Justiça do Equador prende vice aliado de Correa por corrupção

Detenção deve aprofundar a ruptura entre o atual presidente Lenín Moreno e seu antecessor, Rafael Correa

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QUITO - O vice-presidente equatoriano Jorge Glas, investigado por envolvimento no escândalo de corrupção da Odebrecht, foi preso na madrugada desta terça-feira, 3. Ele foi colocado em prisão preventiva após o Ministério Público ter pedido sua detenção. Em uma audiência da Corte de Justiça de Quito, o juiz Miguel Jurado acatou o pedido e também embargou os bens e bloqueou as contas bancárias de Glas.

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A medida aprofunda ainda mais a luta de poderes entre o presidente Lenín Moreno e seu antecessor Rafael Correa (2007-2017), grande aliado de Glas. "Acato - sob protesto - este infame atropelo contra mim, mas tenho fé que a justiça finalmente será imposta e provarei minha inocência", reagiu Glas no Twitter de sua casa em Guayaquil.

Jorge Glas, vice-presidente do Equador, será investigado por ligação com o caso Odebrecht Foto: EFE/José Jácome

O vice-presidente, de 48 anos, afirmou que a decisão foi adotada "sem provas e com indícios forjados", e revelou que recorrerá "a instâncias nacionais e internacionais" para se defender. Glas foi transportado em um avião militar para Quito, onde foi levado para uma prisão da zona norte da cidade.

A Procuradoria encerrou no domingo a fase de instrução do caso de corrupção envolvendo a Odebrecht e funcionários equatorianos, incluindo Ricardo Rivera, tio de Glas.

O procurador-geral, Carlos Baca, havia solicitado a prisão de Glas "em vista dos novos elementos de convicção na investigação por associação ilícita". O juiz decretou ainda a prisão preventiva de Rivera, que cumpria detenção domiciliar, diante do "potencial risco de fuga".

Glas, afastado de suas funções pelo presidente Lenín Moreno, em meio à profunda divisão entre os governistas, teria recebido do ex-diretor da Odebrecht no Equador José Conceição Filho US$ 16 milhões  em propina em troca de contratos de obras com o governo equatoriano.

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Acusado pela oposição de estar envolvido em outros casos de corrupção, Glas foi responsável desde 2007 por setores estratégicos do Equador e a partir de 2013 se tornou vice-presidente.

O processo de Glas no caso Odebrecht se mistura no Equador com a luta de poder no governo, entre os partidários de Lenín Moreno e de seu antecessor, Rafael Correa.

O atual presidente é acusado por Correa, que mora atualmente com sua família na Bélgica, e Glas - antigos aliados - de se unir à oposição de direita para acabar com a chamada "revolução cidadã".

Nesta segunda-feira, dezenas de partidários e opositores a Glas se concentraram diante da Corte de Quito a espera da decisão do juiz.

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Segundo o departamento de Justiça dos Estados Unidos, a Odebrecht pagou US$ 33,5 milhões  a funcionários públicos no Equador entre 2007 e 2016 para obter contratos de obras públicas no país.

As investigações em curso no Equador já provocaram a prisão de mais de dez pessoas, incluindo Rivera e o ex-ministro de Eletricidade Alecksey Mosquera, aliado de Glas.

Em nota, a empreiteira afirma que está colaborando para esclarecer todos os fatos relativos aos casos de corrupção envolvendo seus ex-executivos. “A Odebrecht entende que é de responsabilidade da Justiça a avaliação de relatos específicos feitos pelos seus executivos e ex-executivos. A empresa está colaborando com a Justiça no Brasil e nos países em que atua. Já reconheceu os seus erros, pediu desculpas públicas, assinou um Acordo de Leniência com as autoridades do Brasil, Estados Unidos, Suíça, República Dominicana, Equador e Panamá, e está comprometida a combater e não tolerar a corrupção em quaisquer de suas formas.”/AFP

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Jorge Glas (D),Lenín Moreno (C) e Rafael Correa (E) na noite da vitória do presidente Foto: EFE/José Jácome
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