Justiça paquistanesa autoriza ex-premiê a voltar do exílio

Nawaz Sharif promete lutar contra os planos de reeleição do presidente paquistanês, Pervez Musharraf

PUBLICIDADE

Por Associated Press e Reuters
Atualização:

A Suprema Corte do Paquistão autorizou nesta quinta-feira o ex-primeiro-ministro Nawaz Sharif a retornar do exílio. A decisão da máxima instância judicial do país representa mais um duro golpe político contra o general Pervez Musharraf e aumenta a pressão pela restauração da democracia no Paquistão. Sharif e Benazir Bhutto, outra ex-primeira-ministra que promete retornar, querem liderar uma campanha pelo fim dos oito anos de um regime militar liderado por Musharraf. O general assumiu o poder depois de um golpe palaciano aplicado em 1999. Sharif e seus familiares "têm o direito inalienável de entrar e permanecer no país por serem cidadãos paquistaneses", decidiu o magistrado Iftikhar Mohammed Chaudhry, presidente da Suprema Corte. Segundo a decisão, o retorno do ex-primeiro-ministro e de seus familiares "não deve ser obstruído nem dificultado" pelas autoridades paquistanesas. Apesar de ter autorizado o retorno, a Suprema Corte não ofereceu a Sharif nenhuma espécie de proteção com relação a eventuais processos que o governo ameaça abrir na justiça nem garantiu a ele o direito de concorrer nas próximas eleições, previstas para meados de outubro. Após o anúncio da decisão, cerca de 200 simpatizantes do partido Liga Muçulmanda-N, de Sharif, celebraram o resultado. Em comemoração, um partidário de Sharif sacrificou seis bodes em frente à Suprema Corte. Centenas de simpatizantes do ex-premiê gritaram palavras de ordem contra Musharraf às portas da Suprema Corte. A rua em frente ao tribunal ficou cheia de sangue. Vitória democrática Numa entrevista coletiva concedida nesta quinta em Londres, Sharif celebrou a decisão da Suprema Corte como "uma vitória da democracia e uma derrota da ditadura". Ele manifestou a intenção de "voltar logo" para o Paquistão. O ex-primeiro-ministro reservou palavras duras para Musharraf. "Não acredito em partilha de poder com Musharraf. Ele é um ditador. Nós somos democratas", declarou. Sharif especulou ainda que, com os tribunais do país mais confiantes, o sistema judiciário poderia bloquear o plano de Musharraf de perpetuar-se no poder. Ao longo dos últimos anos, Musharraf prometera que seu regime não autorizaria o retorno de ex-líderes exilados. Entretanto, os Estados Unidos têm pressionado Islamabad a agir contra militantes do Taleban e da Al-Qaeda entrincheirados no Paquistão e Musharraf tem começado a falar sobre a necessidade de uma reconciliação política para que os moderados se unam contra o extremismo islâmico. Num programa gravado antes da decisão e levado ao ar após o anúncio, Musharraf foi questionado sobre se permitiria o retorno de Sharif e de Bhutto e respondeu, sem entrar em detalhes: "Existe um pedido de perdão, para que se apague o passado, e a reconciliação política é a necessidade do momento. É por isso que tenho lutado". Musharraf e Bhutto, que deixou o Paquistão em 1999 para evitar acusações de corrupção, negociam atualmente um acordo de partilha de poder por meio do qual ele poderia continuar sendo presidente se abrisse mão do comando do Estado-Maior das Forças Armadas. Se tudo transcorrer conforme o planejado, os deputados paquistaneses deverão votar para presidente em outubro, apenas alguns meses antes das eleições gerais, nas quais Sharif e Bhutto pretendem obter ganhos. Em Washington, Gonzalo Gallegos, porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, disse que o caso Sharif é uma questão do sistema judiciário paquistanês, mas reforçou que o governo americano quer o "fortalecimento das tradições democráticas do Paquistão". Reeleição O momento da volta de Sharif não poderia ser mais complicado para Musharraf, que tentará obter votos para reeleger-se nas assembléias regionais e na nacional entre a metade de setembro e a metade de outubro. Dentro de poucos meses, o país deve realizar também eleições parlamentares. Depois do golpe de 1999, Musharraf conquistou apoio do que sobrou da Liga Paquistanesa Muçulmana (PML), de Sharif, para formar sua própria base política. Segundo analistas, essa base pode agora rachar se o ex-premiê realmente voltar. "Essa é uma decisão histórica, uma decisão que terá um impacto profundo no cenário político do Paquistão", disse à Reuters o presidente da PML, Raja Zafar-ul-Haq. Matéria ampliada às 14h50.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.