Justiça quer ouvir Chirac sobre escândalo

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Por Agencia Estado
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A inesperada convocação pela Justiça do presidente francês, Jacques Chirac, fato inédito na 5ª República para prestar depoimento sobre o escândalo do financiamento oculto do partido gaullista RPR (do qual ele foi presidente), está provocando uma grande polêmica político-judiciária. Trata-se do processo que investiga o pagamento de comissões irregulares a partidos e dirigentes políticos por empreiteiras escolhidas pela administração de Paris para a construção de habitações populares, durante o período em que Jacques Chirac era prefeito da capital. Alegando que a convocação é inconstitucional, o presidente já disse que não comparecerá para depor, apesar de ter sido convocado como simples testemunha pelo juiz de Creteil, Eric Halphen, responsável pela instrução do processo. O juiz está interessado em aprofundar suas investigações, ouvindo o presidente sobre a confissão (divulgada postumamente) de Jean-Claude Mery, gravada em vídeo pouco antes de sua morte. Mery, antigo coletor de fundos do partido gaullista, confessou, entre outras coisas, ter entregue uma maleta contendo 5 milhões de francos (cerca de US$ 700 mil) a Michel Roussin, antigo chefe do gabinete do prefeito de Paris, mas na presença de Chirac, o que contribui para agravar o fato. Nesse mesmo vídeo, Mery afirma também, sem hesitar: "Nós trabalhamos unicamente sob as ordens de Jacques Chirac." O juiz Halphen, de 41 anos, tem sofrido fortes pressões, até dos próprios parentes, por meio de tentativas de envolvê-lo no escândalo e assim comprometê-lo. Tais tentativas puderam ser desmascaradas a tempo, e o juiz recebeu nesta quarta-feira o apoio de todos os sindicatos de magistrados do país. Por sua vez, ao contrário da opinião de alguns de seus conselheiros, Chirac sempre temeu que Halphen pudesse um dia convocá-lo para depor. "Esse juiz é suficientemente louco para adotar tal iniciativa", comentou o presidente a alguns de seus colaboradores. Nesta quarta-feira, pessoas próximas a Chirac confirmaram que ele ficou furioso ao tomar conhecimento, na madrugada anterior, de que a informação de sua convocação pela Justiça havia vazado para a imprensa e estava estampada num jornal. Quando abordou esse problema em dezembro na televisão, abandonando um silêncio que começava a constranger a opinião pública, Chirac chegou a dizer que o presidente da república "não é um cidadão exatamente como os outros".

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