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Justiça rejeita "veto" dos EUA a candidato dos cocaleiros

Por Agencia Estado
Atualização:

A Justiça Eleitoral boliviana rechaçou hoje (28) o "veto" imposto pelos Estados Unidos à candidatura presidencial do líder cocaleiro Evo Morales, quarto colocado nas pesquisas de opinião sobre as eleições presidenciais de domingo. O embaixador americano em La Paz, Manuel Rocha, advertiu na quinta-feira o eleitorado boliviano: Se cocaleiro Morales, a quem se acusa de estimular o narcotráfico, for eleito, "os Estados Unidos e a comunidade internacional suspenderão a ajuda externa à Bolívia". A ameaça do embaixador americano provocou profundo mal-estar em todos os meios políticos do país. A Justiça Eleitoral acusou o embaixador americano de "atentar" contra a Constituição do país e a Declaração Universal dos Direitos Humanos. E enviou carta ao chanceler boliviano, Gustavo Fernández, pedindo a adoção de medidas diplomáticas "para que tais fatos que exacerbam as tensões sociais na véspera do pleito não se repitam". Candidato do esquerdista Movimento para o Socialismo (MAS) e líder de 37 mil famílias de plantadores de coca (matéria prima da cocaína), Morales, 42 anos, recebeu com ironia a advertência do diplomata americano. "Agradeço ao embaixador por se transformar em chefe de minha campanha e atrair para mim uma torrente de votos antiimperialistas", disse ele no encerramento da campanha em Cochabamba. "Palmas para o embaixador", pediu ele, dirigindo-se à multidão. "Evo sim, ianques não", foi a resposta. Mais de 4 milhões de eleitores bolivianos estão convocados a comparecer às urnas para eleger o futuro presidente da república e também renovar as 157 cadeiras do Parlamento. Segundo as pesquisas de opinião, nenhum dos 11 candidatos que postulam a presidência tem chance de obter os 50% dos votos necessários para se eleger. Dessa forma, de acordo com a Constituição, o novo Parlamento escolherá o presidente entre os dois candidatos mais votados. Lidera as pesquisas o militar populista Manfred Reyes Villa, da conservadora Nova Força Republicana (NFR), com 24% das intenções de voto. O ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada, do centrista Movimento Nacionalista Revolucionário (MNR), ocupa o segundo lugar, com 19%. Em terceiro está o também ex-presidente Jaime Paz Zamora, do social-democrata Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR). Líder das pesquisas, Reyes Villa é filho do general Armando Reyes Villa, ex-chefe das Forças Armadas que apoiou o golpe do ex-ditador García Meza. Capitão do Exército, ele pediu licença da instituição em 1989 para dedicar-se à política. Antes disso, ainda como subtenente, fora assistente do coronel Luis Arce Gomez, um sinistro ministro do Interior de Meza, condenado nos Estados Unidos por narcotráfico. Hoje com 47 anos, Reyes Villa - que também tem curso de administração de empresas e interesses no mercado imobiliário - ganhou quatro eleições legislativas e se elegeu prefeito de Cochabamba, a terceira maior cidade da Bolívia.

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