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Juventude da África do Sul está desiludida

Geração que não viveu o apartheid votará amanhã pela primeira vez

Por Zimkhitha Sulelo e Alison Raymond
Atualização:

Amanhã os sul-africanos irão às urnas pela quarta vez desde democratização, em 1994. Será a primeira eleição de uma geração pós-apartheid composta por jovens que nasceram depois da libertação de Nelson Mandela, ex-presidente que ficou 27 anos na cadeia. Dos 23 milhões de eleitores, 6,4 milhões têm entre 18 e 29 anos, quase um terço do total. A nova geração pouco se lembra do apartheid e duvida que a eleição seja capaz de melhorar o país. Vivendo da fama conquistada pela luta contra o regime branco, Congresso Nacional Africano (CNA), partido governista, liderado por Jacob Zuma, deve vencer com facilidade. Contudo, o voto dos jovens será um teste para o movimento de libertação mais antigo da África, que precisa mostrar serviço se quiser ter vida longa à frente do país. "Não me importa quantos anos eles passaram no exílio. Quero ver resultados agora", disse Shaun Rabany, 20 anos. "O que eles fizeram no passado foi importante, mas eles não podem se esconder atrás dessas conquistas." Nas últimas semanas, a Reuters entrevistou 108 jovens sul-africanos que revelaram descontentamento e apatia às vésperas da eleição. Alguns tinham apenas 3 anos quando acabou o apartheid. Mandela ainda é admirado, mas os jovens não se mostram tão entusiasmados com Zuma. "Só votarei quando aparecer alguém que saiba se relacionar com os jovens, como Barack Obama (presidente dos EUA)", disse Lungiswa Booi, 18 anos. O desânimo de hoje contrasta com o entusiasmo de 1994, quando milhões fizeram fila para eleger Mandela. "Às vezes, sinto que sou obrigado a votar no CNA por causa dos anos de luta. Mas a verdade é que isso ficou no passado e não me identifico com essa luta", disse Dineo Langa, 20 anos. Aos 67 anos, Zuma apelou para os jovens em seu último comício realizado em Johannesburgo, mas a retórica revolucionária e o lema de Zuma, "Umshini wami" ("tragam-me a metralhadora"), não atraem esse eleitorado. "Os partidos políticos precisam nos motivar se quiserem que estejamos envolvidos. Estamos no Facebook e no MXit (serviço de mensagens instantâneas para celulares). Eles precisam conversar conosco numa linguagem que possamos entender", disse Zukiswa Mlanjwa, 20 anos. O que a juventude sul-africana gostaria de ouvir são os planos de Zuma para garantir um futuro livre da criminalidade, da pobreza e da aids, problemas que o CNA não conseguiu resolver. Milhões de sul-africanos negros e pobres ainda moram em favelas e o país tem uma das taxas de criminalidade mais altas do mundo.

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