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Kadafi diz que é hora a Líbia se abrir para o mundo

Nos 30 anos do regime, Muamar Kadafi admitiu que poderá deixar o cargo em breve

Por Agencia Estado
Atualização:

Em uma declaração surpreendente nesta sexta-feira, 2, o ditador líbio, Muamar Kadafi, disse que é hora de sua isolada nação abrir-se para o mundo, e que um dia a Líbia não precisará mais dele como líder. Ainda assim, afirmou que seu regime autocrático, que já dura três décadas, é superior à democracia Ocidental. O fato de Kadafi ter tocado no assunto é um sinal de que há mudança gradual em andamento neste país rico em petróleo. A declaração foi feita durante um raro debate entre o ditador e dois intelectuais ocidentais . Depois de melhorar suas relações com os Estados Unidos e Europa, Kadafi tem procurado promover reformas econômicas ambiciosas no país. Com um amplo território incrustado no deserto e grandes reservas de petróleo, a Líbia tem o maior PIB do norte da África, mas a maioria de seus 5,6 milhões de cidadãos vive na pobreza. Recentemente, o governo de Kadafi chegou a contratar consultores americanos para otimizar os investimentos no país e treinar empresários locais. Mas os sinais de mudanças políticas são pequenos. O debate desta sexta-feira é parte das comemorações do 30º aniversário da declaração da "jamahiriya", ou o "controle das massas" - a filosofia de governo criada por Kadafi em seu famoso Livro Verde. Em teoria, o sistema deveria ser uma forma de democracia direta em que cada cidadão governa através das chamadas Conferências do Povo. Para os críticos, entretanto, a doutrina tornou-se em um regime dominado por um homem só. Durante o debate promovido nesta sexta-feira, o cientista político americano Benjamin Barber e o cientista social britânico Anthony Giddens pressionaram educadamente o homem conhecido como "o Líder Irmão" sobre a necessidade de reformas no sistema político líbio. Vestido com seu roupão marrom e tradicional chapéu líbio, Kadafi criticou a democracia representativa, insistindo que sob o sistema líbio, "todo mundo tem autoridade, não há uma única pessoa que monopoliza o poder. Assim, a briga pelo comando se esvazia". Abertura "Se o líder me permitir discordar, eu acho errado dizermos que se pode ter uma democracia direta funcionando em sua totalidade", disse Barber durante o debate, que será transmitido pela rede britânica BBC. Apesar de defender seu sistema de governo, o líder líbio admitiu que seu país precisa abrir sua economia para o mundo. "Não tenho dúvidas de que a Líbia é parte de um mundo em que a globalização prevalece", disse ele. E acrescentou: "Eu espero que o povo líbio se autogoverne através das Conferências do Povo, e que não haja mais a necessidade de um Muamar Kadafi no futuro. As massas estão ganhando poder agora. Eu espero que o povo líbio seja um modelo para o mundo." Reconciliação A Líbia entrou em confronto direto com os Estados Unidos no início dos anos 80 e esteve sob sanções da ONU devido a participação do governo no atentado contra um vôo da Pan Am que deixou 270 mortos. Apesar da hostilidade internacional, o país conseguiu restabelecer suas relações com o Ocidente ao recompensar os familiares das vítimas do ataque e anunciar em 2003 que desmantelaria seu programa de armas de destruição em massa. No ano passado, os Estados Unidos removeram a Líbia de sua lista de países que apóiam o terrorismo e restabeleceram laços diplomáticos. Segundo Giddens, as declarações de Kadafi nesta sexta-feira são um sinal de que ele pensa seriamente em mudar. Segundo o intelectual, que foi reitor da London School of Echonomics, o ditador está "endossando um processo de abertura". "Houve uma mudança nos últimos meses, uma vontade de considerar a modernização", disse Giddens. "Kadafi pode ter um papel importante no futuro."

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