
15 de agosto de 2020 | 06h00
Além de usar o financiamento dos correios como arma nas eleições de novembro, a Casa Branca vem articulando uma outra maneira de derrotar o democrata Joe Biden: o lançamento da candidatura presidencial do rapper Kanye West.
A lógica é simples. Na visão da equipe do presidente americano, como terceiro candidato, o rapper – que é negro – poderia tirar votos de Biden em Estados importantes e facilitar a vitória de Trump. Seria o que os americanos chamam de um candidato “spoiler”. Por enquanto, as ações de West são cercadas de mistério.
Sua candidatura foi anunciada no feriado de 4 de Julho e, uma semana depois, West entregou a documentação à Comissão Eleitoral Federal. Como vice, ele escolheu a pastora evangélica Michelle Tidball – e saiu pelo país fazendo campanha.
No entanto, o rapper de 43 anos, marido da socialite Kim Kardashian, perdeu o prazo para concorrer na maioria dos Estados americano – mas conseguiu o direito de constar nas cédulas de três Estados e briga na Justiça para entrar em outros quatro.
Uma investigação do New York Times descobriu que várias pessoas que trabalham na campanha de West são operadores do Partido Republicano e têm ligação com Trump. Publicamente, porém, ninguém admite a ajuda. Na quinta-feira, no Estado do Colorado, o rapper se reuniu secretamente com Jared Kushner, genro e assessor do presidente – que admitiu o encontro, mas disse apenas que os dois discutiram “política”.
Diagnosticado com transtorno bipolar, West ficou conhecido por dar declarações confusas e desconexas em entrevistas. Em julho, em um comício em Charleston, na Carolina do Sul, ele entrou em transe e gritou que “quase” matou a filha, ao criticar o aborto.
Enquanto luta para entrar na cédula no maior número de Estados possível, West também enfrenta ações na Justiça que questionam a validade das assinaturas apresentadas por ele nos lugares em que ele conseguiu validar sua candidatura – além de endereços falsos, consta na lista do rapper o apoio surreal de celebridades como o senador Bernie Sanders e Mickey Mouse.
Mesmo que consiga ser votado em novembro, muitos analistas chamam a atenção para o fato de West e Trump serem amigos e lançam dúvida sobre a estratégia, acreditando que o rapper poderia tirar mais votos do presidente do que de seu adversário. Em algumas pesquisas, ele alcança 2 pontos porcentuais – mas não altera a diferença entre Biden e Trump, o que reforça a tese de que a candidatura quixotesca não fará nenhuma diferença. / NYT e WP
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