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Karzai diz que últimos ataques foram atos isolados

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Hamid Karzai disse nesta sexta-feira que a tentativa de assassiná-lo e o atentado com carro-bomba na capital nesta quinta-feira foram atos de terroristas individuais, e não ameaças a seu governo. Na cidade sulista de Kandahar, onde ocorreu o atentado contra Karzai, a polícia e a inteligência afegãs interrogaram nesta sexta 17 suspeitos da tentativa de homicídio. Elevando as cifras oficiais, o ministro da Saúde do Afeganistão, Sohaila Siddiqi, informou nesta sexta que 30 pessoas morreram e 167 ficaram feridas no atentado em Cabul, o mais violento desde que o Taleban foi derrubado do poder. Os ataques foram vistos como um sério desafio aos esforços de Karzai de trazer estabilidade a um país dividido entre senhores da guerra rivais, assombrado por remanescentes do regime taleban e seus aliados terroristas da Al-Qaeda, e em ruína financeira depois de décadas de derramamento de sangue. Mas Karzai tentou minimizar a importância dos dois ataques. "Esses incidentes não indicam nenhum problema", garantiu ele a repórteres, em seus primeiros comentários públicos desde os ataques. "São incidentes provocados por terroristas de uma forma isolada. Isso significa que eles não são mais capazes de se mobilizarem como grupo, então agem individualmente." Mesmo assim, Karzai afirmou que é necessário aprimorar a segurança no Afeganistão. "Temos um longo caminho até conseguirmos trazer total segurança técnica ao país", disse. "Portanto, é um trabalho que temos de fazer em cooperação com o resto do mundo." Perguntado sobre a ameaça contra sua vida, Karzai respondeu: "Não levo isso a sério. Estou mais preocupado com as vidas perdidas ontem em Cabul". Karzai disse que já foi ferido três vezes durante a luta contra a ocupação soviética do Afeganistão na década de 80, e que seu pai foi morto pelo Taleban. "Mas isso me impediu de lutar?" Mas ele prometeu ser mais cuidadoso com sua segurança pessoal. "Não serei tão imprudente como sou." O atacante, em uniforme de segurança, saiu do meio de uma multidão que saudava Karzai quando ele deixava o palácio do governador e disparou contra o carro do presidente. Karzai tinha sido informado momentos antes sobre a explosão em Cabul. Os guarda-costas americanos de Karzai mataram o atirador e dois outros homens, ambos carregando armas. Um era um guarda-costas afegão de Karzai, e o segundo era um mero transeunte, disseram oficiais. O governador de Kandahar, Gul Agha Sherzai, foi ferido de raspão no pescoço por uma bala. Ele foi tratado na base aérea americana ao sul da cidade e recebeu alta. O porta-voz de Sherzai, Khalid Pashtoon, disse que os comandantes haviam sido orientados a não recrutar novos homens para o serviço de segurança, mas que o atirador pode ter sido empregado por um parente. "Infelizmente, o povo afegão não é tão bem treinado ou profissional. Talvez essa pessoa fosse um compatriota ou um tribal, e então ele o contratou", explicou. Não ficou imediatamente claro se os dois incidentes foram coordenados, ou quem esteve por trás de cada ataque. Autoridades afegãs especularam que pode ter sido obra de fugitivos da Al-Qaeda ou do Taleban, ou do ex-primeiro-ministro Gulbuddin Hekmatyar, que estaria tentando forjar uma aliança com os dois grupos. Oficiais informaram que o atirador era um pashtun do sul do Afeganistão, onde tem crescido o ressentimento contra operações dos EUA na região contra remanescentes do Taleban e da Al-Qaeda. Pashtoon disse que uma investigação inicial descobriu que o suspeito, de 22 anos, era da província de Helmand. O chefe de polícia de Kandahar, general Mohammed Akram, o identificou como sendo Abdul Rahman. O atirador havia sido contratado há 15 dias como guarda de segurança para a mansão do governador, que está em reformas. Ainda se tentava determinar se ele tinha ligações com grupos dissidentes. Pashtoon disse que líderes do Taleban podem estar por trás do incidente. Em Cabul, a polícia informou que dois suspeitos foram detidos para interrogatório por terem vínculos com o táxi que foi carregado de explosivos e detonado numa movimentada área de comércio nas proximidades do Ministério da Informação. Nesta sexta, soldados de paz internacionais percorriam a cidade em pequenos comboios de blindados de transporte de tropas e jipes, parando em cruzamentos para vistoriar carros. A polícia e soldados afegãos armados com fuzis ergueram barreiras em todas as entradas de Cabul. Eles promoviam buscas em carros e táxis. Karzai voltou nesta sexta-feira a Cabul para encontrar-se com o ministro da Defesa russo, Sergei Ivanov. Trata-se da primeira visita de um ministro da Defesa da Rússia pós-soviética a visitar o Afeganistão, um país ocupado pela União Soviética por 10 anos. Os soviéticos se retiraram em 1989. Em Kandahar, moradores expressavam irritação e desânimo com atentado contra o presidente. "Se (Karzai) tivesse morrido, nossa nação sofreria uma tremenda perda", disse Ali Ahmed Fazali, um professor de 42 anos. "Não temos nenhuma outra pessoa que una este país".

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