Karzai é eleito presidente no Afeganistão por 18 meses

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Por Agencia Estado
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Apoiado pelos Estados Unidos, Hamid Karzai foi eleito hoje para liderar o governo do Afeganistão por mais 18 meses por ampla maioria de um extraordinário grande conselho de 1.650 afegãos tentando dar cuidadosos passos em direção à democracia. Delegados de toda a nação aplaudiram com entusiasmo quando a decisão foi anunciada. A votação foi secreta. "Vocês confiaram em mim", afirmou Karzai, tirando seu chapéu e curvando-se levemente para a platéia. "Deus nos ajudará a reconstruir o Afeganistão". O presidente do atual governo interino, de 44 anos, conquistou 1.259 votos dos delegados ao grande conselho, ou loya jirga. Massooda Jalal, funcionária do Programa Mundial da Alimentação, ficou com 171 votos e Mir Mohammed Mahfoz Nadai teve 89. Vinte votos foram inválidos, informaram as Nações Unidas. A eleição de um novo presidente - e a própria loya jirga, uma encarnação moderna de uma tradição secular afegã - representa o meio do caminho de um projeto da ONU para ajudar o Afeganistão a superar 23 anos de guerra. O próximo passo, uma constituição e eleições livres, deve ser dado ao fim da administração transitória de Karzai. "Estamos no meio do caminho", disse Lakhdar Brahimi, o enviado especial da ONU. "O presidente foi escolhido por uma razoavelmente representativa amostra do povo do Afeganistão. Eles o fizeram da forma que queriam. E isto é o mais importante." Durante o mês de preparação da loya jirga, um processo de duas etapas de listar os pretendentes e de escolher os delegados, surgiram notícias em várias regiões de suborno e intimidação. Ainda assim os afegãos no geral têm dito que o processo, apesar de não ter sido perfeito, supera qualquer coisa que tiveram em muitos anos. Mesmo aqueles que não se empolgam com Karzai - cujas maneiras suaves e estilo o tornam o perfeito líder afegão para uma audiência ocidental - afirmam que ele encarna suas esperanças. "Ele recebeu um mandato para liderar", avaliou um assessor de Karzai, Ashraf Ghani. "O Afeganistão tem agora um governo legítimo. Depois de anos em que nos tem sido negado um papel na escolha de nossos líderes, escolhemos com liberdade". O longo dia revelou um processo, em certos momentos caótico e incômodo, que representa o primeiro contato real com a democracia para um país emergindo de duas décadas de guerras e misérias. Homens disputavam o microfone. Uma mulher, fazendo um discurso apaixonado, teve o microfone cortado pelo presidente da loya jirga, Ismail Qasim Yar. Dentro da imensa tenda com ar-condicionado onde o conselho era realizado, pessoas esperavam sentadas no chão a hora de votar nas 16 urnas. Algumas, com filmadoras, registravam o momento. A reunião foi um histórico momento para muitos - e uma mostra da diversidade afegã, com participantes cobertos com mantas e turbantes se misturando entre outros com imaculados terno e gravata. "Parece democracia. Pode não ser, ainda. Mas estamos chegando lá", afirmou Abdullah, um delegado de Kunduz, nordeste do país. "Gostei de ver as pessoas na fila para votar", disse H. Aktar Mohammed, um pashtun étnico da província sulista de Ghazni. Zalmay Khalilzad, enviado especial do presidente americano, George W. Bush, aplaudiu a eleição de Karzai, a quem os EUA têm apoiado desde as últimas semanas de sua guerra contra o Taleban no ano passado. "É um grande dia para o Afeganistão - eleger um governo ao invés de tê-lo por um golpe, intervenção militar ou violência", afirmou Khalilzad. Alguns delegados têm criticado os EUA, aberta ou obliquamente, por terem pressionado pela eleição de Karzai. A escolha de Karzai, elogiado por seus esforços de conciliação durante seis meses no poder, era certa depois que seus dois principais oponentes - o ex-rei Mohammad Zaher Shah e o antigo presidente Burhanuddin Rabbani - se retiraram da disputa. "O rei está muito feliz. Nunca houve qualquer idéia de o rei querer um cargo político. Ele está acima da política, separado dela", explicou Hamid Nasir Zia, um assessor do ex-monarca. Karzai fez um chamado à reconciliação nacional, mesmo com alguns membros do deposto Taleban, que, para ele, foram "sequestrados por estrangeiros" - árabes da Al-Qaeda que dominaram o regime. Ele disse que o país de 27 milhões habitantes terá um futuro mais brilhante caso coloque de lado suas diferenças étnicas. Muitos delegados criticaram a presença de senhores da guerra e antigos comandantes na loya jirga. Antes saudados como heróis, eles agora são amaldiçoados por terem passado a lutar entre si depois de expulsarem os invasores soviéticos em 1989 e derrubado o governo pró-Moscou em 1992. Mas a maioria dos delegados querem olhar para o futuro - para o trabalho da loya jirga no sentido de modelar o resto do governo transitório e a capacidade da administração Karzai de impor sua autoridade em todo o país.

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