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Khamenei não é Deus na Terra, dizem intelectuais no Irã

Por Agencia Estado
Atualização:

Mais de 250 intelectuais uniram-se a estudantes promovendo manifestações pró-democracia no Irã e pediram num manifesto público ao líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei, para responder ao povo, e não se arvorar de representante de Deus na Terra. O manifesto, publicado hoje no jornal reformista Yas-e-nou, foi o primeiro sinal visível de apoio de outros iranianos aos jovens manifestantes. Os signatários não se intimidaram com a violência usada na repressão aos estudantes nem com encarceramento de políticos que haviam feito pedido semelhante a Khamenei. Os manifestantes foram mais longe do que os intelectuais, alguns pedindo mesmo a morte de Khamenei num país onde críticas ao líder supremo podem ser punidas com prisão. Os clérigos governistas afirmam que a palavra de Khamenei não pode ser questionada. "Considerar que indivíduos estejam na posição de divindade e de poder absoluto... é politeísmo aberto (em contradição com Deus todo-poderoso) e flagrante opressão da dignidade do ser humano", afirmaram os intelectuais no manifesto divulgado inicialmente no domingo. "As pessoas (e seus representantes eleitos) têm o direito de supervisionar plenamente seus governantes, criticá-los, e afastá-los do poder se não estiverem satisfeitos com eles", considera o manifesto. Entre os 252 signatários está Hashem Aghajari, um professor universitário condenado à morte no ano passado por acusação de ter insultado o Islã e questionado o regime clerical. Depois de protestos em massa, a sentença de morte de Aghajari foi comutada em fevereiro, mas ele continua preso. O manifesto também elogia a carta aberta que 127 legisladores enviaram no mês passado a Khamenei, pedindo a ele para aceitar reformas antes que "todo o establishment e a independência e integridade territorial do país estejam em perigo". Os legisladores também advertiram que as crescentes ameaças dos Estados Unidos ao Irã desde a derrubada de Saddam Hussein no vizinho Iraque tornaram a situação ainda mais grave para os clérigos governistas. Vários legisladores que assinaram a carta foram posteriormente atacados e seus escritórios, incendiados. Acredita-se que muitos iranianos estejam frustrados com a elite religiosa governista, mas se calam por medo de represália. Enquanto centenas de estudantes saíram às ruas na semana passada, a maioria dos iranianos apenas observava os manifestantes pró-democracia se confrontarem com policiais e vigilantes que apóiam o regime religioso. Sem o apoio de outros setores da sociedade, os estudantes têm poucas esperanças de sucesso ou mesmo de manter o clima para as manifestações. Não havia sinais de novos protestos na noite de hoje.

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