Kirchner assumirá Presidência da Argentina no dia 25

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Néstor Kirchner assumirá a Presidência da Argentina no dia 25 de maio próximo em um clima de confiança e de imagem positiva, segundo pesquisa realizada pela consultoria Ipsos-Mora y Araujo. Kirchner aparece liderando o ranking de imagem positiva dos políticos, antes liderado pela candidata derrotada no primeiro turno, Elisa Carrió. O novo presidente aparece com 46% de imagem positiva, seguido por Carrió, com 43%. Em terceiro e quarto lugares aparecem o vice-presidente, Daniel Scioli, com 38%, e o ministro de Economia do atual e do próximo governo, Roberto Lavagna, com 32%. O ex-presidente Carlos Menem obteve somente 15% de imagem positiva. A pesquisa foi realizada entre os dias 8 e 12 de maio com uma mostra de 1.200 casos. Já o índice de otimismo sobre a situação da Argentina cresceu de 36% , em abril, para 46%, nesta semana. O que está por trás da desistência de Menem Com o argumento de que "os desfechos das crises na Argentina são sempre inusitados", um antigo e respeitadíssimo diplomata brasileiro, conhecedor profundo da Argentina, sempre se esquiva de dar opiniões sobre os cenários finais possíveis para as crises neste país, principalmente as políticas. A renúncia de Carlos Menem, na metade da corrida eleitoral, pegou o país de golpe, não de surpresa porque o balão de ensaio desta decisão anunciada, oficialmente, no começo da noite de ontem já tinha sido solto desde a semana passada. Porém, a "saída pela direita" de Menem causou esturpor, dúvidas e muita polêmica no país. A partir do dia 25 de maio próximo, a Argentina terá o presidente eleito com menos votos da história democrática do país. A eterna briga pelo poder, dentro e fora do Partido Justicialista, entre o ex-presidente Carlos Menem e o presidente Eduardo Duhalde, parece ter turvado a visão de Menem e o impedido chegar ao final da competição. Para não amargar uma derrota para o até então desconhecido governador da província patagônica de Santa Cruz, Néstor Kirchner, Menem preferiu desapontar seus quase cinco milhões de eleitores e entrar para a história como o único candidato vencedor do primeiro turno a abandonar a disputa no segundo turno das eleições, além de frustrar o 65% dos eleitores que queriam ir às urnas no domingo, segundo as pesquisas de opinião. A princípio, a desistência de Menem mais se assimilava a uma estratégia política de evitar a derrota esmagadora que jogaria por terra a imagem de invencibilidade que o ex-presidente sempre fez o impossível para cultivar. Todas as pesquisas de opinião indicavam uma diferença de até 50 pontos entre ele e seu adversário, Néstor Kirchner. No entanto, o tempo que Menem levou para anunciar sua decisão, as reuniões realizadas, consultas e declarações de seus assessores mais próximos, mostraram que o ex-presidente tentou negociar a sua não renúncia mas acabou ficando sem escolha. Triste, solitário e abandonado Visivelmente triste, solitário e abandonado pelos correligionários, Carlos Menem foi pressionado pelas lideranças menemistas que, conhecendo a vitória que Kirchner teria nas urnas, decidiram afastar-se da briga Duhalde-Menem, para não serem prejudicados em suas campanhas a governador, prefeito, vereador e até deputado. Também, há a versão de assessores e analistas de que ao ver-se nesta situação de pressão pela própria base partidária, Menem recorreu aos adversários para fazer um acordo: continuar na disputa e aceitar a derrota em troca de que o novo governo não o prossiga com processos na Justiça e que lhe resguardaria uma quota de poder político. "Não cheguei até aqui para compactuar com o passado", foi a resposta de Néstor Kirchner, ao ex-presidente, em seu primeiro discurso depois de iniciada a novela menemista. A frase também foi interpretada pelos bons conhecedores dos políticos argentinos como "dita à Menem mas olhando à Duhalde", como opinou o analista político Joaquín Morales Solá. Uma mensagem dada por Kirchner de que não será o "fantoche" de Duhalde, como Menem acusou durante toda a campanha. Eleito com 22% dos votos do primeiro turno, Kirchner dependeu dos votos duhaldistas, da máquina e de Duhalde para chegar à Presidência. Mas no segundo turno, basicamente, seria eleito pelo voto anti-menemista dos argentinos que decidiram dizer "não" à volta de Carlos Menem. É aí que entram as dúvidas sobre a legitimidade e governabilidade do novo presidente. Os analistas políticos são unânimes em que Kirchner terá de construir sua própria base através de consensos dentro e fora do peronismo ou ficar refém do poder duhaldista que se limita à província de Buenos Aires, sem penetração no interior do país. Se Kirchner pudesse ter chegado ao segundo turno e vencido, como previam as pesquisas, com cerca de 70% dos votos, obter o apoio político para governar seria mais fácil. Porém, na atual situação, terá mesmo que negociar, e muito, e já deu sinais de que não se deixará ser pressionado por Duhalde ou por outros grupos. Recentemente, em entrevista aos correspondentes estrangeiros, perguntado como levaria sua relação com o setor duhaldista eventualmente intransigente, pressionador, ou um Congresso duro. Ele respondeu que "primeiro tratarei de ser entendido e compreender, mas não duvidarei em nenhum momento, em tornar público os problemas que estão ocorrendo porque o povo precisa saber o que acontece" por detrás dos bastidores da política, do governo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.