''''Kirchner estreitou relação com Chávez''''

Entrevista[br]Matias Spektor, analista internacional[br]Pesquisador da Fundação Getúlio Vargas diz que Venezuela é principal fonte de apoio diplomático da Argentina na região

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Por Cristiano Dias
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Por que Néstor Kirchner não quis um segundo mandato? Porque ao se candidatar a um segundo mandato - e provavelmente ganhar -, ele viraria um "pato manco", ou seja, manteria a presidência, mas perderia o controle sobre o partido. No dia seguinte à eleição, o partido começaria a brigar para fazer seu sucessor. Por isso, era mais seguro apostar em Cristina. Com ela na Casa Rosada, Néstor dá sinais de que pode voltar daqui a quatro anos. Mesmo sem a faixa presidencial no peito, seu poder e influência continuam intactos. Cristina é mais interessada em política externa do que o marido. O que a eleição dela mudaria na relação da Argentina com o Brasil? Não creio que haverá mudanças fundamentais. As linhas gerais dos interesses nacionais argentinos permanecerão as mesmas. Existe a possibilidade de Cristina adotar uma posição mais pragmática na política externa argentina, dialogar mais com os EUA e o Brasil e jogar mais duro com a Venezuela? O diálogo com os EUA dependerá de quem ocupar a Casa Branca. No caso das relações com o Brasil, a chave está na Venezuela. Quanto mais forte o vínculo de Buenos Aires com Caracas, menos a Argentina depende de um vínculo vigoroso com o Brasil. Pelo menos até agora, tudo indica que a Argentina continua vendo a Venezuela como sua principal fonte de apoio diplomático e financeiro na região. Existe alguma chance de a Argentina apoiar uma candidatura do Brasil para membro permanente do Conselho de Segurança da ONU? Improvável. A Argentina busca bloquear tentativas de reforma do Conselho de Segurança que consagrem novos assentos permanentes em bases não-rotativas. Do mesmo modo que a China se opõe a um assento para o Japão, a Itália não quer a entrada da Alemanha e o Paquistão é contra a candidatura da Índia. Quando Mercosul completará a transição de área de livre comércio para união aduaneira? Ainda vai demorar. Os últimos anos mostram que o avanço em direção a uma união aduaneira são pouco prováveis.

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