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Kirchner inicia brigar com juízes da Suprema Corte

Por Agencia Estado
Atualização:

Em uma mensagem de oito minutos em sua primeira cadeia de rádio e televisão, ontem à noite, o presidente Néstor Kirchner abriu fogo contra os juízes da Suprema Corte de Justiça, reivindicando sua renovação, principalmente a substituição do presidente da Corte, Julio Nazareno. Kirchner disse que não aceitará pressões e pediu ao Congresso que prossiga com o processo de impeachment de um (Nazareno) ou de vários juízes da chamada "maioria automática", que são aqueles juízes indicados pelo ex-presidente Carlos Menem, os quais emitiram sentenças em benefício do ex-presidente e de sua administração durante toda a década de 90. Esta será a primeira guerra que Néstor Kichner enfrentará em seu governo e o presidente deixou claro que cumprirá a promessa de denunciar à opinião pública todas as pressões e tentativas de manipulações contra sua administração. Kirchner investiu duramente contra o presidente da Suprema Corte, quem fez uma ameaça velada ao presidente há dois dias, ao dizer que "seria fácil se a Corte disser um dia pagar o 13% em dinheiro vivo e não em bônus; devolve o dinheiro já", numa referência à devolução que o governo tem que fazer do corte salarial do funcionalismo produzido pelo ex-presidente Fernando De la Rúa. O juiz também usou expressões chulas, como "deixa de me f..." e acusou o governo de querer nomear juízes amigos para a Suprema Corte. "Nesta terça-feira, escutamos as impróprias apreciações feitas à imprensa pelo presidente da Corte Suprema de Justiça, Julio Nazareno. Impróprias do cargo que ostenta pelo que diz, pelo que sugere, pela pressão que tratam de esconder", afirmou o presidente, que qualificou o juiz Nazareno como "parte do passado que resiste a conjugar o verbo mudar, acostumado à um constante toma lá dá cá". Néstor Kirchner deixou claro que não negociará com o Judiciário, como fizeram seus antecessores. "Não estamos dispostos a negociar o resultado de questões que a Corte tem que resolver e que longamente excedem as questões econômicas", referindo-se às causas complicadas para o governo que se encontram à espera de sentenças da Corte , como a devolução do corte de salários do funcionalismo público, aposentados e pensionistas, a redolarização dos depósitos, a revogação das Leis de Obediência Devida e Punto Final que anistiaram os militares da ditadura. Antes de seu discurso inflamado, Néstor Kirchner recebeu a informação de que Julio Nazareno pretende retomar o caso da redolarização da economia, o que dará muita dor de cabeça ao governo. A sessão para tratar o caso está marcada para a próxima quarta-feira, e o presidente entendeu que o gesto faz parte de uma manobra de pressão do grupo da "maioria automática" (os menemistas Eduardo Moliné O´Connor, Guillermo López, Adolfo Vásquez , Carlos Fayt e o próprio Julio Nazareno) para evitar o processo de impeachment no Congresso Nacional. O caso que será votado é de um investidor privado e seu resultado pela redolarização teria um efeito cascata, o que colocaria os bancos em apuros e a política econômica numa situação complicada. Em apenas uma semana e meia de governo, Néstor Kirchner tocou em três ninhos de serpentes que já provocaram muita polêmica e crise com os governos anteriores. Primeiro, removeu toda a cúpula militar que realizava articulações políticas, as quais deixavam no ar suspeitas de ameaças à democracia; substituiu os chefes da polícia e de segurança; mudou a direção do Pami, o plano de saúde dos aposentados, cuja cara pública é a de um truculento sindicalista e parlamentar, Luis Barrionuevo, quem já ameaçou o governo de que no "Pami não se toca". O alerta contra a Corte Suprema é o quarto movimento de ataque de Néstor Kichner que parece disposto a aproveitar todos os créditos da expectativa social de mudança. Porém, ao enfrentar publicamente os juízes da Corte, os analistas consideram que o presidente está correndo um risco institucional e político muito grande. Somente o Congresso Nacional tem o poder de realizar o impeachment dos juízes e este será o primeiro teste de Kirchner com sua base parlamentar. O ex-presidente Eduardo Duhalde tentou o mesmo e o processo de impeachment fracassou. No entanto, os analistas apontam que a situação de Kirchner é um pouco diferente porque o país vive uma situação política e econômica muito melhor, com maior estabilidade e legitimidade de poder.

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