Kirchner investirá US$ 3,5 bilhões em programa nuclear

Governo argentino quer usar usinas atômicas para driblar crise energética

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Por Agencia Estado
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O Ministro do Planejamento Federal, Julio De Vido, braço-direito do presidente Néstor Kirchner, anunciou nesta quarta-feira, 23, os detalhes do Programa Nuclear Argentino. Segundo cálculos extra-oficiais, seria necessário o investimento de US$ 3,5 bilhões ao longo da próxima meia década. Os planos envolvem a conclusão da terceira usina atômica e a eventual construção de uma quarta central, além da ampliação da produção de urânio enriquecido e a reativação da fábrica de água pesada, elementos cruciais para o funcionamento das usinas nucleares. A idéia de Kirchner é ampliar a capacidade atômica do país para driblar a crise energética que assola a Argentina há dois anos e que, segundo os especialistas, tenderá a agravar-se nos próximos tempos. De Vido fez questão de destacar várias vezes que o uso da energia nuclear seria "pacífico". Por trás do viés econômico do plano também existe um forte sinal político de que a Argentina pretende reforçar sua autonomia na área nuclear e consolidar-se como exportadora de tecnologia do setor. O programa geraria 6 mil novos postos de trabalho (dos quais 4 mil são relativos à usina de Atucha II). O programa tem como objetivo reduzir a dependência argentina da energia elétrica gerada pelo gás, pelas hidrelétricas e pelo petróleo. No total, 51% da geração de energia elétrica é proporcionada por usinas térmicas, enquanto que 42% é de origem hidrelétrica. A energia de origem atômica - 7% do total - é gerada por duas usinas nucleares - a de Atucha I (no município bonaerense de Zárate, à beira do Rio Paraná) e a de Embalse (próximo à cidade cordobesa de Río Tercero), têm, respectivamente, 357 MW e 648 MW de potência instalada. Nova usina Kirchner pretende concluir as obras da usina atômica de Atucha II, localizada no município de Zárate, na margem direita do rio Paraná, a pouco mais de uma centena de quilômetros de Buenos Aires. Essa central nuclear começou a ser construída há um quarto de século. No entanto, em 1994, o então presidente Carlos Menem (1989-99) ordenou a suspensão das obras. De lá para cá, a obra ficou paralisada. Em diversas ocasiões Menem tentou privatizar as usinas, mas fracassou. Com a inauguração de Atucha II, a Argentina poderá redirecionar o consumo de mais de 3 milhões de metros cúbicos diários para as indústrias e usuários residenciais. A usina gerará 750 MW. O custo da finalização das obras implicaria no desembolso de US$ 600 milhões. O plano do presidente também prevê a construção de uma quarta usina, com capacidade de 1.000 MW cuja localização não foi definida e cujo estudo de viabilidade ainda precisa ser realizado. A idéia inicial é que esta usina começaria a ser construída em 2010, após a conclusão das obras de Atucha II. O custo da quarta central nuclear oscilaria entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões. O programa também prevê a retomada da produção de urânio enriquecido, suspensa nos anos 90 por causa de pressões internacionais. A fábrica de urânio enriquecido, fundada em 1978, durante a última Ditadura Militar, está na cidade de Pilcaniyeu, na Patagônia.

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