Kirchneristas reagem a visita de Macri a museu sobre tortura no período da ditadura

Presidente recebeu críticas de grupos como Mães da Praça de Maio e Avós da Praça de Maio, que buscam descobrir o paradeiro de filhos e netos desaparecidos durante a ditadura 

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Por Rodrigo Cavalheiro , correspondente e Buenos Aires
Atualização:

BUENOS AIRES - Uma visita surpresa do presidente da Argentina Mauricio Macri a um ex-centro de torturas transformado no principal museu sobre a última ditadura do país (1976-1983) provocou críticas por parte dos kirchneristas. O líder argentino esteve na sede da Escola de Mecânica da Marinha (Esma) na manhã de segunda-feira para acompanhar uma reunião do Ministério da Justiça e aproveitou para visitar pela primeira vez as instalações, abertas à visitação pública. Mais de 5 mil presos e 120 torturadores passaram pelo lugar.

Durante seus oito anos como prefeito de Buenos Aires, Macri não foi ao lugar, adotado como uma espécie de quartel general pelo kirchnerismo. Foi Néstor Kirchner (2003-2007), morto em 2010, que determinou em 2004 a transformação do edifício militar em museu e pediu perdão em nome do Estado pela repressão a grupos políticos de esquerda. O governo de Cristina Kirchner (2007-2015) usou o julgamento de militares envolvidos em crimes contra os direitos humanos como uma de suas principais bandeiras.

Presidente da Argentina, Mauricio Macri, visita a antiga Escola de Mecânica da Marinha (Esma), em Buenos Aires, que funcionou como o maior centro de detenção clandestina da ditadura no país Foto: EFE/PRESIDENCIA DE ARGENTINA

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A ex-vereadora kirchnerista Gabriela Cerruti acusou o presidente de ir ao local para tirar uma foto "como tirou com os Rolling Stones". O presidente reuniu-se na noite anterior com a banda britânica em sua casa de campo. A deputada Myriam Bregman, da Frente de Esquerda e os Trabalhadores (FIT), disse ao jornal La Nación que Macri "tenta converter a Esma em um monumento de reconciliação com genocidas" e o governo quer "voltar a impor a nefasta teoria dos dois demônios", pela qual se equiparam os crimes cometidos por militares aos atos de grupos guerrilheiros. 

A ONG Hijos questionou em sua conta no Twitter se Macri havia ido ao lugar para demitir mais trabalhadores, uma referência ao processo de revisão de contratos de funcionários públicos que tende a atingir 20 mil empregados. Os grupos Mães da Praça de Maio e Avós da Praça de Maio, que buscam descobrir o paradeiro de desaparecidos e seus filhos durante a ditadura, e apoiam o kirchnerismo, não comentaram inicialmente a visita. As "avós" reclamam por não terem sido recebidas pelo presidente na Casa Rosada, enquanto as "mães" mantêm oposição radical a Macri, cujo governo tenta tirar escultores ligados ao kirchnerismo de um galpão da Esma emprestado por Cristina.

A visita do presidente pegou de surpresa até os funcionários de seu governo. Segundo o jornal Clarín, ele pediu valentia e velocidade máxima nos processos. O presidente assumiu em dezembro sob desconfiança de grupos de proteção aos direitos humanos, pelo apoio recebido de advogados e grupos que defendem os militares acusados de violações. 

"O governo mantém a política de direitos humanos como uma política de Estado, apesar das diferenças de enfoque que possamos ter, e a visita de Macri confirma isso", disse o ministro de Justiça, Germán Garavano, ao Clarín. O golpe que levou à última ditadura argentina completa 40 anos em 24 de março.

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