''Kirchners perderão, mas não abandonarão poder''

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Por Ariel Palacios
Atualização:

"O ex-presidente Néstor Kirchner tem a psicologia de um tirano". A frase é do escritor Marcos Aguinis, ex-ministro da Cultura, psiquiatra e autor de O Atroz Encanto de Ser Argentino, obra que analisa as origens dos problemas da Argentina. Para Aguinis, Kirchner é "doente pelo poder" e sua mulher e sucessora, a presidente Cristina Kirchner, "histérica". O escritor falou ao Estado sobre as eleições parlamentares de junho, nas quais, segundo ele, "o governo sofrerá uma pesada derrota". Em seu novo livro o senhor afirma que Kirchner tem "a psicologia de um tirano" e parece com o personagem de ?Édipo Rei?, peça do dramaturgo grego Sófocles... A psicologia de um tirano mostra um indivíduo que não aceita opiniões opostas à dele e tem características paranoicas. Possui um intenso apetite de poder, acha que sabe mais do que os outros. Em ?Antígona?, também de Sófocles, Édipo, já cego, confronta-se com o governante que o substitui, Creonte. Este lhe diz: "Seu tempo já acabou!" Kirchner entenderá esse recado, caso perca as eleições? Creonte diz a Édipo: "Você já era e quer continuar governando. Não pode continuar governando. Já acabou seu tempo." Parece que Sófocles estava descrevendo o próprio Kirchner! É evidente que os Kirchners perderão as eleições, mas estão acostumados a mandar de forma autoritária. Por isso, essa derrota significará uma novidade, pois eles teriam de aprender a dialogar. Como reagirão diante da derrota? No ano passado, vencido no Senado (a oposição derrubou o ?impostaço? agrário do governo), Kirchner quis forçar a renúncia de sua mulher. Mas acho que agora uma derrota não os faria deixar o governo e perder o poder. Tal como Hieron, o tirano grego de Siracusa, Kirchner teme que, se sair, será "devorado vivo". Eles podem ser perseguidos na Justiça. Então, desta vez, não ameaçariam renunciar... Acho que só fariam isso se tivessem a chance de fugir para um país sem acordo de extradição com a Argentina. No âmbito político, fala-se sobre um refúgio na África do Sul. Mas isso implicaria em abandonar aqui pessoas que fizeram "negócios" com eles. E elas não deixariam que eles partissem e os deixassem na mão. O sr. acha que os Kirchners poderiam pactuar com a oposição e terminar o governo em 2011 em troca de impunidade? Há antecedentes desse tipo de pacto. Mas quando os delitos do governo se tornarem públicos, as pessoas não aceitarão que a impunidade seja mantida. O governo está desesperado. Um sinal disso é a decisão de colocar estrelas das telenovelas como candidatas a deputados.

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