Kosovares estão chocados com defesa de Milosevic

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Por Agencia Estado
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A população de Racak, uma pequena cidade de Kosovo, está chocada com as declarações do ex-presidente da Iugoslávia Slobodan Milosevic na Corte de Haia, de que o massacre de kosovares albaneses foi uma invenção. Milosevic se defendeu das acusações de crimes de guerra em Racak com a exibição de um vídeo sugerindo que o massacre de 25 pessoas, em 1999, foi uma mentira. Balançando as mãos num sinal de que não estavam acreditando no que estavam vendo e, ocasionalmente, xingando, muitos não podiam suportar ouvir as palavras de Milosevic ou acompanhar a sessão do tribunal. "É uma mentira, não posso ouvir isso", disse Bilall Bilalli, um morador de Racak, que bateu com o dedo no aparelho de TV. "Eu estava lá quando a polícia veio, de casa em casa, levando as pessoas. Eles os mandaram para o alto da montanha e os mataram." O que aconteceu em Racak tem sido alvo de polêmicas há muito tempo. Testemunhas afirmam que os soldados sérvios mataram e mutilaram as vítimas. A violência durou seis horas e acabou com uma música nacionalista, afirmam. O vídeo, um documentário feito pela rede alemã de televisão ARD rebate as acusações de que o massacre em Racak tenha sido obra dos sérvios. Leva o nome de "Tudo começou com uma mentira". No documentário alemão, o general Heinz Loquai e a patologista Helen Ranta argumentam que, enquanto as pessoas morriam, os acontecimentos eram levados adiante e promovidos pelo Ministério da Defesa da Alemanha, como parte de uma campanha de propaganda ocidental. O filme, feito pelos produtores independentes Jo Angerer e Mathius Werth, foi criticado pelos kosovares albaneses que foram entrevistados no documentário. Eles argumentam que não estão suficientemente representados. Joerg Schoenenborn, editor-chefe da TV WDR, uma divisão da ARD disse que os produtores do documentário se sentiram "usados" pelas ações de Milosevic, porque o filme tinha a intenção de criticar o uso da mídia pelos governos ocidentais - e não era propaganda sérvia. "A acusação central do filme é que a Otan e o Ministério da Defesa da Alemanha distorceram a verdade a fim de aumentar o apoio da opinião pública para os bombardeios aéreos sobre a Iugoslávia", disse. "Milosevic está usando o nosso filme a fim de levantar provas para a sua teoria de que a Otan agiu de forma criminosa. É uma conexão que tem pouco a ver com a verdade." O indiciamento de Milosevic afirma que no dia 15 de janeiro de 1999 as forças iugoslavas entraram no vilarejo de Racak e mataram as pessoas que tentaram fugir. As forças iugoslavas pegaram 25 homens e os levaram para uma colina próxima, onde eles foram mortos, diz o indiciamento. A colina tornou-se o cemitério, com suas flores e lápides visíveis a qualquer um passeie pelas ruas deste pequeno vilarejo a 30 quilômetros da capital, Pristina. As ruas de Racak estavam vazias nesta quinta-feira, no momento em que Milosevic começou sua defesa, enquanto famílias como os Bilallis se reuniam em volta dos aparelhos de TV. Esta família de etnia albanesa e alguns convidados se sentaram no colchão sobre o piso da casa, para ver as imagens nebulosas da TV. As crianças se revezavam para segurar a antena. As tensões aumentaram depois da transmissão do vídeo. Os moradores de Racak argumentaram que muitas pessoas sabem a verdade sobre as mortes. Na época, monitores internacionais foram enviados para a província como parte dos esforços de paz. "Milosevic diz que Racak não foi um massacre", afirmou Bilalli enfurecido. "Racak é um massacre - um massacre comprovado por observadores internacionais!" O primo de Bilalli, Asllan, aproximou-se da imagem da TV. "Se Racak não foi um massacre, então o que é um massacre?", perguntou.

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