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Kosovo ignora advertências da Sérvia e declara-se independente

Novo Estado espera agora pelo reconhecimento da comunidade internacional, que pediu calma na região dos Bálcãs

Por Pristina
Atualização:

A província sérvia de Kosovo declarou-se ontem independente, ignorando as advertências da Sérvia e o protesto de países como Rússia e China. Pelas cidades do território de maioria albanesa, a declaração unilateral foi recebida com festa nas ruas, apesar das baixas temperaturas do rigoroso inverno nos Bálcãs. Com cerca de 2 milhões de habitantes (dos quais 90% têm origem albanesa), Kosovo estava sob administração da ONU desde 1999, quando a Otan expulsou tropas lideradas pelo ex-líder iugoslavo Slobodan Milosevic e pôs fim a um violento conflito étnico. Em meio à celebração, no entanto, granadas foram lançadas contra edifícios da União Européia (que deve reconhecer a nova República de Kosovo) e da ONU na cidade de Mitrovica, de maioria sérvia. Apesar de o incidente não ter deixado feridos, ele demonstra que a oposição sérvia será um duro desafio para o novo país (leia mais abaixo). Antecipando-se às tensões, o premiê de Kosovo, Hashim Thaci, reiterou ontem - em meio à mensagem ao Parlamento no qual declarou a independência kosovar - que o novo Estado garantirá às minorias do território segurança e direitos iguais aos da maioria albanesa. Negligenciada na era da Iugoslávia comunista, a precária infra-estrutura do território será outro desafio para o governo do novo país. Há poucas estradas e ferrovias e, em alguns locais, a energia elétrica só é fornecida no período da noite . Estima-se em mais de 50% o índice de desemprego e 45% vivem com menos de US$ 3 por dia. A independência de Kosovo foi aprovada por aclamação na sessão extraordinária do Parlamento. "Nós, os líderes democraticamente eleitos pelo povo, declaramos neste momento que Kosovo é um Estado independente e soberano", segundo a proclamação, lida no Parlamento em albanês, sérvio e inglês. A separação do território seguirá o plano do enviado especial da ONU Martti Ahtisaari, que prevê independência "sob supervisão internacional" e autonomia para a minoria sérvia. "Nunca perdemos a esperança de que um dia seríamos um Estados livre, e hoje somos. Nossos sonhos são infinitos, nossos desafios enormes, mas nada poderá nos deter", discursou Thaci, ex-líder guerrilheiro do separatista Exército de Libertação de Kosovo. Logo depois, parlamentares aprovaram os novos símbolos nacionais de Kosovo. Pelas ruas, no entanto, a população celebrava a independência tremulando bandeiras da Albânia e dos EUA. Após a proclamação, os líderes do novo país assinaram uma enorme escultura de metal com a palavra "newborn" (recém-nascido) e foram para o estádio de Pristina, onde orquestra filarmônica kosovar executou a Ode à Alegria, de Beethoven. "Tenho agora meu próprio país, meu próprio código postal, e nele não consta mais o nome da Sérvia", celebrou Ymer Govori. Apesar da euforia, quatro pessoas, duas delas crianças, foram feridas por balas perdidas durante as comemorações em Pristina. Kosovo terá de esperar agora pelo reconhecimento de sua independência pela comunidade internacional. Os EUA, principais aliados do governo kosovar, disseram ontem ter recebido com satisfação a notícia sobre a separação do território. "Saudamos o claro compromisso de Kosovo de proteger as minorias étnicas", disse o porta-voz do governo, Sean McCormack, que afirmou que Washington emitirá em breve um comunicado sobre sua posição. Em visita à África, o presidente George W. Bush, disse que seu governo fará todo o possível para evitar novos confrontos na região. AP, EFE E REUTERS

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