Durante quase 400 dias desde que duas misteriosas explosões no compartimento de torpedos arrebentou o submarino nuclear Kursk causando a morte de todos os 118 tripulantes russos, o submarino de 152 metros de comprimento repousa nos sedimentos do leito do Mar de Barents. Mas, se tudo sair conforme planejado - e pouca coisa saiu até agora -, uma barcaça de içamento holandesa chamada Giant 4, presa por oito cabos com âncoras, vai erguer o Kursk do fundo do mar até o fim deste mês usando 26 macacos hidráulicos controlados por computadores numa operação que, segundo seus projetistas, poderá ser concluída em 12 a 16 horas. No entanto, o içamento do Kursk, uma das operações de salvamento de maior envergadura e mais complexas já tentadas, está repleta de riscos. A tripulação precisa não perturbar os dois reatores nucleares do submarino e não abalroar sua carga mortífera de torpedos sem explodir e 22 mísseis de cruzeiro. Autoridades russas dizem que os riscos compensam, pois elas têm um dever para com os tripulantes mortos e também com o meio ambiente do Ártico. Em novembro, durante o primeiro exame do interior do submarino por mergulhadores russos desde a explosão ocorrida em 12 de agosto, 12 corpos foram retirados, mas talvez outros cem continuem presos nos destroços. Enquanto isso a Europa observa, temendo outro vazamento de radiação como o ocorrido na usina de Chernobyl. Grandes projetos de salvamento podem causar grandes desastres. Em 1974, quando o Hughes Glomar Explorer engatou-se ao submarino soviético da classe Golf que afundara sob 5.100 metros de água a noroeste do Havaí - parte de um esquema secreto de recuperação concebido pela Agência Central de inteligência (CIA) e da Marinha dos EUA -, a tensão causada pelo içamento partiu o submarino. O Kursk será içado de águas relativamente rasas, menos de 105 metros, mas pesa quase 10 vezes mais que um submarino da classe Golf. E, caso o Kursk se rompa e despeje conteúdo altamente radioativo de seus reatores no Mar de Barents, as consequências ameaçarão uma das áreas de pesca mais produtivas do Ártico. "Este é um objeto militar grande, que tem 22 mísseis supermodernos a bordo com grandes cargas nas ogivas, não nucleares, mas cargas potentes, e dois reatores, e tudo isto no centro de uma área que é explorada com fins econômicos em águas rasas", disse Igor D. Spassky, importante projetista de submarinos da Rússia. "Não consigo conceber que tal objeto seja deixado no leito do oceano."