Lagos defende a consolidação do Mercosul

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Por Agencia Estado
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O presidente do Chile, Ricardo Lagos, em visita oficial a Paris, onde avistou-se com o presidente Jacques Chirac e o primeiro-ministro Lionel Jospin, defendeu a consolidação do Mercosul, dizendo que ele deve evoluir como entidade de convergência de políticas macroeconômicas e não apenas comerciais, como será o caso da Alca, a Associação de Livre Comércio das Américas. Para o presidente chileno, não há nenhuma incompatibilidade entre esses dois instrumentos, mesmo porque o Mercosul é algo mais do que um simples acordo de livre comércio, devendo caminhar para um pequeno Maastrich e evoluir também para políticas sociais similares. "O Mercosul aponta para uma integração política, social e econômica, enquanto a Alca será simplesmente um acordo de livre comércio, duas coisas bem distintas", afirmou o chefe de governo. Quanto às dificuldades vividas pelo Mercosul, que têm levado analistas europeus a prognosticar um futuro incerto para esse bloco, Lagos lembrou que essa entidade já atravessou outras fases de dificuldades, citando a crise brasileira quando o governo desvalorizou o real, em 1999. "Ora, tarifas muito baixas em cima de uma desvalorização dessa ordem tornaram o intercâmbio comercial muito difícil", afirmou o presidente. Já a Argentina, segundo ele, "optou por aumentar suas tarifas como forma de acertar suas contas internas, sem que o Brasil se opusesse a essa decisão, desde que limitada a um período transitório, até que se restabeleça a confiança junto aos mercados internacionais". Essa decisão também afetou o Chile, mas Lagos entende que essa foi uma forma de contribuir para a solução da crise desse parceiro. Quanto ao anúncio argentino da inclusão do euro como moeda de referência juntamente com o dólar para estabelecer o valor do peso, o presidente do Chile lembrou que a paridade anterior estabelecida entre o dólar e o peso teve êxito para combater a inflação, mas acabou se transformando numa camisa-de-força muito apertada para manejar as variáveis econômicas. A seu ver, o ideal seria caminhar para uma política de câmbio mais livre, não aceitando para o seu país uma política cambial fortemente ligada a uma moeda estrangeira. Ele prefere esperar pela implementação das medidas definidas pelo ministro Domingo Cavallo. Lagos fez questão de frisar que a Alca poderá constituir um acordo comercial importante para as Américas, mas quando se trata de aprofundar relações e debates sobre políticas comuns, o Chile pretende manter a discussão no contexto latino-americano, sendo o Mercosul um instrumento prioritário. Isso não impede que o Chile tenha procurado concluir acordos comerciais com outros países isoladamente, casos do Canadá e México, e outros que estão sendo discutidos com os EUA e a União Européia. O Chile, um pequeno país, mantém um mercado interno restrito, ao contrário do Brasil, cujo mercado interno absorve quase todos os seus produtos, só exportando 8% da produção. Seu país tem de se voltar para o exterior , daí suas baixas tarifas e uma economia das mais abertas. As tarifas alfandegárias se situam em torno de 8% , mas vão cair para 7 e 6 % nos próximos dois anos. Para Lagos a potencialidade de crescimento chileno será determinada por sua capacidade de inserção na economia mundial. Quanto à possibilidade de seu país ser afetado pela desaceleração da economia norte-americana e estagnação japonesa, o presidente admite que, apesar da boa saúde interna do Chile e de o país estar preparado para "navegar em mares mais difíceis", isso poderá ocorrer. Mas observou que, se os EUA, a Europa e o Japão tiverem problemas muito sérios, todos os países serão afetados, e não apenas o seu.

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