Lampreia critica postura "maniqueísta" de Bush

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Por Agencia Estado
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O ex-ministro de Relações Exteriores, Luis Felipe Lampreia, hoje presidente do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), disse estar preocupado com a postura maniqueísta do presidente norte-americano, George W. Bush. Em palestra sobre as relações políticas e econômicas Brasil/Estados Unidos, organizado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pelo Conselho Empresarial Brasil-Estados Unidos, o ex-ministro mostrou-se indignado com o fato de o presidente Bush ter se negado a cumprimentar o chanceler alemão (chefe de governo), Gerhard Schröeder, depois de ter sido reeleito para mais um mandato neste domingo. A Alemanha negou apoiar um eventual ataque norte-americano contra o Iraque. "Imaginem então o que pode ocorrer com outros líderes que venham a ser eleitos", disse Lampreia, referindo-se, inclusive, ao futuro presidente brasileiro, independentemente de quem venha a ser eleito no dia 6 de outubro e, se houver segundo turno, no dia 27 do mesmo mês. "Isso pode levar a caminhos perigosos", completou o ex-ministro, que dividiu a mesa de debates com William Perry, assessor sênior para Assuntos Externos e do Hemisfério Ocidental do Departamento do Estado norte-americano. O ex-ministro transmitiu aos cerca de 200 empresários que participaram do evento que há, neste momento, potencialmente, "uma navegação complicada" nas relações Brasil/Estados Unidos. "É necessário que pessoas com certa influência façam com que essa navegação não seja mais turbulenta do que já é", afirmou Lampreia. Para o ex-ministro, seria lamentável que, no próximo governo, independentemente de quem venha a ser eleito, houvesse uma acentuação das divergências entre os dois países, principalmente porque o Brasil sairia perdendo mais. Perry, de certa forma desafiado por Lampreia, disse que os EUA não têm preferência por esse ou aquele candidato. "Queremos trabalhar com o que eleja o povo brasileiro. Queremos o mesmo relacionamento positivo que tivemos com o governo Fernando Henrique Cardoso com o próximo governo", disse Perry. O assessor do Departamento de Estado reconheceu que existem diferenças entre os dois países, porém, que podem ser superadas para evitar que as relações sejam contaminadas. "O Brasil e os EUA têm inúmeros desafios para garantir a estabilidade democrática no Hemisfério, o avanço da Alca e o controle do narcotráfico", acrescentou Perry. Alca Sobre a Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o ex-ministro afirmou que o "único atrativo" para o Brasil é a possibilidade de ter acesso ao mercado norte-americano para produtos competitivos brasileiros. "Sem isso, teremos a sensação de que as negociações favorecerão apenas um lado." Lampreia, fora do governo há cerca de dois anos, adotou postura crítica explícita em relação ao governo norte-americano. "Os EUA querem que o Brasil abra seu mercado, mas faz o contrário para proteger seus setores mais sensíveis. Mas, a menos que haja a possibilidade de ter uma situação melhor do que hoje, não haverá, na sociedade, a percepção de que será um bom negócio para o Brasil", afirmou. A embaixadora dos EUA, Donna Hrinack, afirmou que o compromisso do governo Bush é negociar a Alca e que, até hoje, existe satisfação na Casa Branca sobre o compromisso dos candidatos à Presidência de respeitar os compromisso assumidos pelo Brasil, inclusive essas negociações comerciais. "Qualquer outra situação é hipotética", afirmou.

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