Lampreia: Mercosul está em risco

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Por Agencia Estado
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?É evidente que o Mercosul está em risco como entidade?. Com estas palavras, o ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia explicou em entrevista exclusiva ao Estado que o bloco comercial do Cone Sul passa por um dos momentos mais ?delicados? de sua década de existência. O embaixador Lampreia, no momento presidente do CEBRI (Centro Brasileiro de Relações Internacionais), afirmou que ?o futuro do Mercosul está em risco. Pelo menos, o futuro do Mercosul tal como ele estava previsto. O ex-chanceler, que está em Buenos Aires como coordenador do Seminário Internacional ?A dimensão federal do Mercosul?, sustentou que existem três tipos de risco para o bloco comercial: ?Primeiro, o perigo de que a união aduaneira seja definitivamente ferida, na medida em que o governo argentino decidiu suspender a tarifa externa de importações para bens de capital extra-Mercosul?. Com esta suspensão, altera-se um dos princípios básicos do Mercosul ? o de tarifas externas comuns ?, além de prejudicar bens de capital made in Brazil, que passariam a enfrentar a concorrência de produtos dos EUA, União Européia e Ásia dentro do mercado argentino, onde até semana passada tinham preferência. Lampreia sustenta que a atitude argentina pode abrir precedentes perigosos que debilitariam o bloco comercial por dentro e para fora: ?Em segundo lugar, essa medida de reduzir as tarifas poder levar ao enfraquecimento da disciplina do Mercosul face à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA)?. Além da redução das tarifas alfandegárias para a importação de bens de capital, a Argentina aumentou as tarifas para a importação de bens de consumo. Enquanto a primeira decisão foi encarada como um golpe direto contra as vendas de bens de capital provenientes do Brasil, a segunda ? no início ? causou entusiasmo por ampliar as possibilidades de exportações de bens de consumo brasileiros. No entanto, o ex-chanceler ? experiente nas manobras argentinas dos últimos anos para aumentar o protecionismo em cada chance que aparece - alerta para o perigo de que ?a decisão de aumentar as tarifas alfandegárias extra-Mercosul para uma grande quantidade de bens de consumo pode levar à restrições de produtos brasileiros com conflitos comerciais, como têxteis, calçados e siderúrgicos?. Segundo Lampreia, ?neste contexto, o tema é grave?, mas também destacou que ?existe a preocupação de ajudar a Argentina a sair de suas dificuldades. É um dos momentos mais delicados da História do Mercosul?. Sobre a possibilidade de que o Brasil exerça em breve com os EUA uma co-presidência da Alca, Lampreia disse que ?é uma tentativa de colocar o carro na frente dos bois. Não há razões para fazer essas acelerações. São idéias que parecem engenhosas, mas que não dão certo?. Diversos governadores de Estados e províncias do Mercosul participaram do seminário coordenado pelo embaixador Lampreia. O governador Olívio Dutra (RS), declarou que ?a defesa do Mercosul diante da Alca é imperiosa?. Dutra definiu as reuniões da Alca como ?precipitadas?. Ele alertou para o perigo de que a Alca possa ?inviabilizar o Mercosul?. O governador da província argentina do Chaco, Angel Rozas, disse ao Estado que é preciso entrar nas negociações da ALCA com um Mercosul ?unido e consolidado?. Rozas, vice-presidente da UCR, partido do presidente Fernando De la Rúa, explicou que ?não podemos desacelerar a integração do Mercosul para proceder no avanço da Alca?. Grande parte da economia chaquenha depende das exportações de fibra de algodão para o Brasil.

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