Os imigrantes latino-americanos de ascendência japonesa que foram convidados a embarcar rumo ao Japão em décadas passadas para suprir a escassez de mão-de-obra enfrentam novas normas que os obrigarão a assimilar a cultura de seus antepassados ou se verem forçados a ir embora. Enquanto avança a queda dos índices de natalidade e a sociedade envelhece, o Japão começa a analisar políticas de imigração cujas primeiras propostas prevêem que o número de estrangeiros não ultrapasse 3% da população do país. O principal incentivador da nova norma é o atual vice-ministro da Justiça, Taro Kono, que considera ser necessário fomentar a entrada de mão-de-obra estrangeira de muitos países para sustentar o crescimento econômico. Em entrevista concedida à EFE, Kono expressou sua preocupação pelas dificuldades de adaptação dos latino-americanos de origem japonesa chegados nos anos 1980 e isolados por não saberem falar japonês. Colônia A atual colônia latino-americana no Japão é formada por cerca de 300 mil pessoas, com maioria brasileira e peruana, e trabalha em diferentes setores industriais no país. O ex-executivo de multinacionais japonesas nos Estados Unidos e em outros países da Ásia considera que a ignorância em relação ao idioma gera, entre os imigrantes, alienação e problemas de comunicação. Salários Devido à atual crise econômica, os salários sofreram reduções, e hoje os latino-americanos têm rendas reduzidas ou ficam muito tempo desempregados no Japão, situação que leva, freqüentemente, à delinqüência, segundo Kono. Tais declarações remetem às dificuldades de adaptação de comunidades latinas como a de Hamamatsu, na província de Shizuoka, ao sul de Tóquio, na qual vários brasileiros de ascendência japonesa vivem sem emprego estável e seus filhos não querem ir à escola devido ao idioma. As conseqüências da imigração estrangeira não foram enfrentadas de forma eficaz pelos governos anteriores, que se dedicaram a falar, estudar ou examinar o fenômeno mas sem tomar decisões que levassem a ações concretas, criticou o alto funcionário. Kono considera que a imigração é um fenômeno necessário, pois, embora se pretenda aumentar a força de trabalho autóctone (promovendo mais mulheres nas empresas e atrasando a idade para a aposentadoria), é importante ter mais estrangeiros. Criminalidade O vice-ministro da Justiça falou sobre o alto número de presos não japoneses em prisões locais, mas se mostrou reticente a aceitar a alta como um indicador de que uma ou outra nacionalidade seja mais propensa à delinqüência. No Japão, um criminoso tem de enfrentar um sistema jurídico que inclui a pena de morte. Segundo números da Polícia japonesa, o número de delitos cometidos em 2004 no Japão por estrangeiros subiu 16% em relação ao ano anterior, para 47.124 casos. A pena capital pedida pelo pai de uma menina de sete anos que sofreu abusos sexuais e foi assassinada por um peruano é algo compreensível para este funcionário, já que as penas de cadeia perpétua no Japão são passíveis de se tornarem condenações de pouco mais de duas décadas se o acusado tiver bom comportamento. As leis propostas por Kono foram reunidas em um documento preliminar intitulado "Sobre a aceitação dos estrangeiros no futuro", que defende a redução do número de imigrantes com salários baixos e a ampliação do número de trabalhadores qualificados. O vice-ministro da Justiça pede melhores salários para os imigrantes e educação obrigatória para seus filhos, além de testes de japonês para medir o grau de habilidade no idioma por parte dos trabalhadores estrangeiros. O maior obstáculo para as mudanças será a burocracia, que pode fazer com que as autoridades passem anos estudando quais medidas tomar. "Precisamos de um líder que tome uma decisão política rápida", concluiu.