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Legisladores de facções curdas rivais se reúnem

Por Agencia Estado
Atualização:

Numa rara demonstração de unidade política antes de um possível ataque dos Estados Unidos contra o Iraque, legisladores de facções rivais curdas iraquianas se reuniram hoje pela primeira vez em oito anos. A reunião da Assembléia Nacional do Curdistão aproximou legisladores da União Patriótica do Curdistão, de Jalal Talabani, e do Partido Democrático do Curdistão, de Massoud Barzani, assim como representantes da minoria cristã do norte do Iraque. A assembléia foi eleita pela primeira vez em 1992, mas é a primeira vez que toda a câmara de 105 cadeiras se reúne desde 1994, quando tensões políticas entre Talabani e Barzani explodiram numa guerra civil de quatro anos. Após uma trégua mediada pelos EUA em 1998, as relações entre os dois campos foram se normalizando, e o Curdistão iraquiano tornou-se relativamente seguro e próspero. Talabani e Barzani sentaram-se lado a lado na assembléia hoje. Entre os convidados locais e estrangeiros estava Danielle Mitterrand, viúva do ex-presidente francês François Mitterrand e antiga defensora dos direitos dos curdos. O secretário de Estado americano, Colin Powell, não compareceu, mas enviou uma mensagem de apoio e encorajamento que foi lida na sessão. Ele elogiou os legisladores curdos pela mostra de unidade mas advertiu que "o caminho à frente é difícil". "Agora que vocês compartilham a mesma sala da assembléia, estou certo de que vocês também irão compartilhar um comprometimento com a segurança, prosperidade e liberdade de todos os iraquianos, tanto nas áreas que vocês representam como no Iraque como um todo. A paz exige sacrifício e comprometimento. Vocês têm feito sacrifícios e assumido compromissos", afirmou Powell em sua mensagem. "Nosso objetivo agora não é apenas tornar o Curdistão livre, mas fazer o Iraque livre", disse Barzani. Harmonia A demonstração de harmonia entre Barzani e Talabani, ambos inimigos do governo do presidente Saddam Hussein em Bagdá, ocorre no momento em que os EUA se preparam para um possível ataque contra o Iraque e a remoção do líder iraquiano. Mas a ressurgência do nacionalismo curdo tem preocupado a vizinha Turquia, um aliado próximo dos EUA que abriga uma comunidade curda de 12 milhões de integrantes, assim como o Irã e a Síria. Todos os três se opõem a uma partição do Iraque. "Este encontro não deve exceder seus limites, ele não deve ser apresentado a outros como um passo na direção da declaração de independência", reagiu o ministro do Exterior turco, Sukru Sina Gurel. "A Turquia não vai tolerar de forma alguma um passo que fira a integridade territorial do Iraque", adiantou ele à tevê CNN-Turquia. Os curdos insistiram que não querem uma nova nação e, sim, um enclave semi-autônomo dentro de um governo federal iraquiano em Bagdá. "Explicamos sempre, tanto pública como privadamente, a nossos amigos e vizinhos que vemos o Curdistão iraquiano como parte do Iraque", garantiu Azad Judiani, um representante de Talabani. A Assembléia Nacional do Curdistão, uma espécie de parlamento regional, é composta por 51 membros do partido de Barzani (KDP), 49 de Talabani (PUK) e 5 cristãos assírios. O norte do Iraque tem estado sob proteção aérea anglo-americana desde pouco depois da Guerra do Golfo, em 1991, quando o Exército iraquiano sufocou revoltas simultâneas dos curdos no norte e dos xiitas no sul. Juntos, o KDP e o PUK dispõem de uma força de 75.000 homens - a maioria equipada com armas leves. Os dois partidos controlam três das 18 províncias iraquianas e governam 3,5 milhões dos 22 milhões de iraquianos. Entretanto, vários oficiais curdos afirmam que não tomarão parte em qualquer plano dos EUA para derrubar Saddam. Mas privadamente alguns falam de uma possível ofensiva curda para capturar a cidade rica em petróleo e tradicionalmente curda de Kirkuk, onde Saddam lançou um programa de arabização para remover residentes curdos e cristãos.

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