Legislativo ameaça vetar novo gabinete no Irã

Parlamentares dizem que não confirmarão parte dos indicados de Ahmadinejad a ministérios

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Por Reuters e TEERÃ
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Em mais um sinal de tensão nos bastidores do poder no Irã, parlamentares declaram ontem que rejeitarão os indicados do presidente Mahmoud Ahmadinejad a chefias de ministérios. Para os líderes, entre os escolhidos para o novo gabinete estão nomes despreparados e desconhecidos - vários deles ligados à Guarda Revolucionária, a elite da segurança do regime, que apoia Ahmadinejad. "Os nomeados pelo presidente para postos governamentais devem ter o conhecimento e a experiência necessários para os cargos. Caso contrário, grande parte da força do país será desperdiçada", disse o porta-voz do Parlamento, Ali Larijani. O vice-porta-voz do Legislativo, Mohammad Reza Bahonar, tido como um conservador pragmático dentro do regime, declarou que até 5 dos 21 indicados por Ahmadinejad poderão ser vetados. Bahonar, porém, não citou nomes. A TV estatal iraniana noticiou que o novo governo terá "11 caras novas". CONTRA-ATAQUE As acusações fizeram Ahmadinejad contra-atacar, afirmando que nenhum representante pode falar em nome de todo Parlamento. "Isso está longe de uma cooperação construtiva. Aqueles que tentam demonstrar que as relações entre o governo e o Legislativo estão prejudicadas certamente fracassarão", respondeu o presidente. A crise é a primeira prova de fogo de Ahmadinejad desde os distúrbios que varreram o país em junho - os maiores dos 30 anos da República Islâmica. A oposição afirma que a reeleição do presidente foi fraudada e diz não reconhecer a legitimidade do novo governo. No centro da atual discórdia entre parlamentares e Ahmadinejad está o indicado para o Ministério do Petróleo, Massoud Mirkazemi. Figura próxima do presidente, Mirkazemi é atualmente ministro do Comércio, mas críticos afirmam que ele não tem a formação técnica necessária para chefiar o mais estratégico setor da economia iraniana. Ontem, Ahmadinejad decidiu defender pessoalmente a nomeação de Mirkazemi. "A presença dele no Ministério do Petróleo continuará a promover o status de nossa indústria petrolífera", garantiu o presidente. Em 2005, no início de seu primeiro mandato, Ahmadinejad teve três de seus indicados ao Ministério do Petróleo recusados pelo Parlamento. Mirkazemi e os indicados para a chefia do Ministério do Interior e da agência de inteligência iraniana são ligados à Guarda Revolucionária. Desde a eleição de Ahmadinejad, há quatro anos, o corpo de elite - cuja responsabilidade é zelar pelos valores supremos da Revolução Islâmica - tem abocanhado setores cada vez maiores da política e da economia do país persa. Gala Riani, especialista da consultoria IHS Global Insight, afirma que o novo gabinete de Ahmadinejad "consiste basicamente de aliados com um passado nas forças de segurança". A rejeição de algum dos nomes minaria a legitimidade do governo, defende Gala. Ahmadinejad, no entanto, ainda conta com o decisivo apoio do líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei.

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