CARACAS - A Assembleia Nacional da Venezuela, controlada pela oposição, convocou uma rebelião popular e a pressão internacional, ao denunciar um "golpe de Estado" do governo, após a suspensão do processo de referendo revogatório contra o presidente Nicolás Maduro.
Em uma tensa sessão na noite de domingo, 23, que ficou brevemente suspensa pela invasão de grupos chavistas no plenário, a Assembleia Nacional divulgou uma resolução final, denunciando "uma ruptura da ordem constitucional" cometida "pelo regime" de Maduro e nesse sentido, decidiu "convocar o povo da Venezuela à defesa ativa" da Carta Magna "até conseguir a restituição da ordem constitucional" e "pedir à comunidade internacional a ativação de mecanismos" para o retorno da "democracia".
O Legislativo também anunciou que formalizará uma denúncia no Tribunal Penal Internacional (TPI) contra os juízes regionais e os reitores do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), considerados "responsáveis" pela suspensão do processo de referendo para tirar Maduro do poder.
A Assembleia também decidiu "proceder de maneira imediata" à substituição das autoridades do CNE e do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ). A oposição acusa ambos os órgãos de atuarem em defesa do governo. O documento também exige das Forças Armadas que "não obedeça, nem execute qualquer ato contrário à Constituição".
Ao considerar a resolução como uma "tentativa enganosa de copiar o golpe de Estado no Brasil", o líder da bancada governista, Héctor Rodríguez, lembrou que, há dois meses, a Assembleia foi declarada em desacato pelo TSJ e todos seus atos são considerados nulos.
Golpe. Um depois do outro, os deputados da oposição foram denunciando a existência de uma "ditadura" no país. "O povo tem direito à rebelião (...) Na Venezuela, deu-se um golpe de Estado continuado, que teve seu ápice com o roubo do voto do referendo", criticou o líder da bancada opositora, Julio Borges.
"Como vocês dizem que tem ditadura na Venezuela, se vocês conseguiram ganhar eleições?", questionou a deputada governista Tania Díaz, ao classificar a sessão de hoje de "reality show".
Os legisladores oficialistas também acusaram os opositores de tentar dar um golpe de Estado. "Não tentem aproveitar conjunturas difíceis para acabar com a pátria", afirmou o deputado Earle Herrera. "Promover um referendo revogatório não constitui em nada a desestabilização, ou golpe de Estado (...) são recursos que estão na Constituição", respondeu Ramos Allup, ao encerrar a sessão. / AFP e EFE