Leia o comunicado do secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone

A carta é uma resposta à crise gerada por um discurso, realizado na última terça-feira, em que o pontífice criticou o conceito de guerra santa

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Por Agencia Estado
Atualização:

O secretário de Estado do Vaticano, Tarcisio Bertone, divulgou um comunicado neste sábado, em italiano, esclarecendo a posição do papa Bento XVI acerca do islamismo. A carta é uma resposta à crise gerada por um discurso, realizado na última terça-feira, em que o pontífice criticou o conceito de guerra santa. Texto da Declaração do Vaticano sobre o discurso do Papa Bento XVI na Alemanha Considerando a reação nas regiões muçulmanas a certas passagens do pronunciamento do Santo Padre na Universidade de Regensburg, e os esclarecimentos e explanações já apresentados pelo diretor do escritório de imprensa da Santa Sé, gostaria de acrescentar o seguinte: A posição do Papa a respeito do Islã é inequivocamente aquela expressa pelo documento conciliar Nostra Aetate: ?A Igreja olha também com estima para os muçulmanos. Adoram eles o Deus Único, vivo e subsistente, misericordioso e onipotente, criador do céu e da terra, que falou aos homens e a cujos decretos, mesmo ocultos, procuram submeter-se de todo o coração, como a Deus se submeteu Abraão, que a fé islâmica de bom grado evoca. Embora sem o reconhecerem como Deus, veneram Jesus como profeta, e honram Maria, sua mãe virginal, a qual por vezes invocam devotamente. Esperam pelo dia do juízo, no qual Deus remunerará todos os homens, uma vez ressuscitados. Têm, por isso, em apreço a vida moral e prestam culto a Deus, sobretudo com a oração, a esmola e o jejum.? (No. 3) A opção do Papa a favor do diálogo inter-religioso e intercultural é igualmente inequívoco. Em seu encontro com representantes de comunidades muçulmanas em Colônia, Alemanha, em 20 de agosto de 2005, ele disse que esse diálogo entre cristãos e muçulmanos ?não pode ser reduzido a um extra opcional?, acrescentando: ?As lições do passado devem nos ajudar a evitar a repetição dos mesmos erros. Precisamos buscar caminhos de reconciliação e aprender a viver respeitando a identidade uns dos outros.? Quando à opinião do imperador bizantino Manuel II Paleólogo, que ele citou durante sua fala em Regensburg, o Santo Padre não quis, nem quer, fazer sua aquela opinião. Ele simplesmente a usou como um meio de empreender - num contexto acadêmico, e como fica evidente em uma leitura completa e atenta do texto - certas reflexões sobre o tema da relação entre religião e violência em geral, e para concluir com uma rejeição clara e radical da motivação religiosa para a violência, venha ela do lado que vier. Nesse ponto, convém relembrar o que o próprio Bento XVI afirmou recentemente em sua Mensagem comemorativa pelo 20.º aniversário do Encontro Inter-religioso de Oração pela Paz, iniciado por seu predecessor João Paulo II em Assisi, em outubro de 1986: ?...demonstrações de violência não podem ser atribuídas à religião enquanto tal, mas às limitações culturais com as quais ela convive e se desenvolve ao longo do tempo... Aliás, testemunhos do laço estreito que existe entre a relação co m Deus e a ética do amor, são registrados em todas as grandes tradições religiosas.? O Santo Padre lamenta, pois, sinceramente que certas passagens de seu pronunciamento possam ter soado ofensivas às sensibilidades dos fiéis muçulmanos, e possam ter sido interpretadas de uma maneira que não corresponde de nenhum modo às suas intenções. Aliás, foi ele que, ante o fervor religioso de crentes muçulmanos, advertiu a cultura ocidental secularizada para se prevenir contra ?o desprezo por Deus e o cinismo que considera a zombaria do sagrado um exercício de liberdade.? Reiterando seu respeito e estima pelos que professam o Islã, ele espera que eles sejam ajudados a compreender o correto significado de suas palavras para que, superando rapidamente este momento presente constrangedor, o testemunho ao ?Criador do Céu e da Terra, Que falou aos homens? possa ser reforçado, e a colaboração possa se intensificar ?para promovermos juntos em benefício de toda a humanidade a justiça social e o bem-estar moral, assim como a paz e a liberdade? (Nostra Aetate no. 3).

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