Leis regionais amenizam efeitos de medida de Trump sobre pacto climático

Grupo de resistência, formado por Estados, municípios e corporações, promete ampliar esforços para reduzir emissões de gases e negocia a possibilidade de reportar seus avanços diretamente à ONU; Greenpeace crê que EUA conseguirão cumprir meta

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Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington 
Atualização:

Com a decisão de Donald Trump de retirar os EUA do Acordo de Paris, um movimento de resistência surgiu no país, envolvendo democratas, alguns republicanos e o mundo corporativo, confiantes na prevalência das leis regionais sobre as federais nessa área. Estados e municípios prometem ampliar seus esforços para reduzir emissões de gases poluentes e garantir o cumprimento das obrigações assumidas pelos americanos diante de 194 países. 

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump Foto: AFP PHOTO / Brendan Smialowski

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Logo depois do discurso do presidente, na quinta-feira, os governadores da Califórnia, de Nova York e de Washington – todos democratas – anunciaram a criação de uma coalizão de Estados e municípios comprometidos com as metas do Acordo de Paris. Juntos, os três representam 24% do PIB dos EUA, 14% da população e 11% das emissões poluentes.

Prefeitos e corporações também manifestaram a intenção de perseguir as metas do pacto. Desafiando Trump, o grupo negocia a possibilidade de reportar seus avanços diretamente à ONU. “Os Estados e as cidades americanas são livres para perseguir as próprias ações com o objetivo de mitigar a mudança climática”, disse o professor David Uhlmann, diretor do programa de Legislação Ambiental da Universidade de Michigan.

Segundo ele, grande parte dos avanços registrados foi obtida graças a regulamentos e leis aprovadas em âmbito estadual e municipal. “O Congresso não fez nada”, ressaltou. “O presidente Barack Obama estava limitado no que podia fazer, porque os parlamentares se recusaram a agir. Seus parceiros principais eram os governos locais.”

Ofensiva. A Califórnia lidera as ações de combate à mudança climática e tem os mais rigorosos limites e metas de redução de emissões dos EUA. No início da semana, o Senado estadual aprovou lei que determina o uso de 100% de fontes renováveis de energia por geradoras de eletricidade até o ano de 2045. 

“Em grande medida, a política energética dos Estados Unidos não é controlada pelo governo federal, mas por Estados e municípios”, observou Adam Beitman, do Sierra Club, maior organização ambiental do país.

Um dia depois de Trump dizer que foi eleito pelos “cidadãos de Pittsburgh” e não de Paris, o prefeito da cidade, Bill Peduto, assinou decreto que prevê o uso de fontes renováveis para 100% da eletricidade da administração pública até 2030. Apesar da declaração de Trump, 56% dos votos de Pittsburgh foram para Hillary Clinton.

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Kelly Mitchel, diretora de Campanhas do Clima e de Energia do Greenpeace, acredita que os EUA conseguirão cumprir a meta de reduzir suas emissões em 26% a 28% até 2025, em relação ao patamar de 2005, apesar da decisão de Trump. O grupo ensinará técnicas de desobediência civil ao redor do país e lançará uma campanha contra bancos que financiam projetos ligados a combustíveis fósseis. “Isso não é popular entre clientes, não é bom para os negócios e é um investimento arriscado.”

Ontem, o ex-prefeito de Nova York, o empresário e filantropo Michael Bloomberg, anunciou que levantará US$ 15 milhões para garantir a contribuição dos EUA ao organismo das Nações Unidas responsável pelo acompanhamento do pacto. 

Embora a legislação regional seja capaz de mitigar os efeitos da decisão de Trump, não há consenso sobre a viabilidade do pacto sem os EUA. “Você não pode compensar a retirada do segundo maior emissor mundial de poluentes do acordo”, disse Paul Bodnar, que conduziu as negociações financeiras dos EUA em Paris. “Se você está em um país muito pobre e sua prioridade é o alívio da pobreza, você vai precisar de um incentivo para se concentrar na construção de painéis solares, em vez de carvão”, disse. / COM AP

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