O presidente do Equador, Lenín Moreno, assumiu na semana passada a presidência do Equador após dez anos de Rafael Correa no poder. Ao longo da última década, não foram poucas as comparações entre as revoluções cidadã, do líder equatoriano, e a bolivariana, do venezuelano Hugo Chávez. Apesar de receber um país também afetado pela crise econômica, Moreno tem pela frente um desafio proporcionalmente menor ao do venezuelano Nicolás Maduro.
Desde meados de 2014, quando o preço do petróleo no mercado internacional começou a cair, o Equador viu seus indicadores macroeconômicos se inverterem após uma década de bonança impulsionada por investimentos em infraestrutura e programas de redução de pobreza.
O PIB no ano passado encolheu 1,7% e a projeção para este ano é de - 1,6%, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI). O desemprego tem aumentado, assim como o investimento do governo, e o nível de pobreza parou de cair. A inflação, no entanto, tem se mantido baixa.
Na Venezuela, o quadro é bem mais sombrio. Existe uma escassez crônica de produtos da cesta básica e remédios. O país deve fechar o ano com uma hiperinflação 720% e uma contração no PIB de 7,4%. O setor privado no país está praticamente parado porque o governo não repassa divisas para importar matérias-primas. O setor público, sem investimentos de infraestrutura como é o caso do Equador, é pesado, ineficiente e envolto em suspeitas de corrupção e contrabando.
A dolarização da economia equatoriana depois do corralito de 2001 é a razão principal para que, apesar da retórica bolivariana de Correa, o Equador tenha sido menos impactado pela crise que a Venezuela.
O economista Steve Hanke, professor de economia aplicada da Universidade Johns Hopkins, em Maryland, calculou o índice de miséria dos dois países, em uma conta que soma o desemprego, inflação, endividamento, menos a evolução per capita do PIB real. Quanto mais alto o índice, mais miserável o país. A Venezuela, nessa conta, somou 214,9. O Equador, 18,9.
“O que realmente importa nessa diferença é que o Equador dolarizou sua economia. Desta forma, o governo não pode imprimir moeda para se endividar e criar inflação, como faz o governo venezuelano”, disse Hanke, que assessorou o governo do Equador em 2001 durante a dolarização e também trabalhou como assessor do presidente venezuelano Rafael Caldera, nos anos 90. “O Equador é um tipo de chavismo light, com a mesma filosofia, mas que não pode perder o controle da economia em razão da dolarização. E Correa foi esperto em mantê-la.”
Ainda de acordo com o economista, um fator que agravou a crise macroeconômica venezuelana foi a politização da administração pública com quadros de pouca qualidade técnica. “Depois do golpe, Chávez optou por tirar todo corpo técnico da PDVSA e lentamente a empresa começou a perder competitividade ao ser gerida por políticos”, disse.
Além da dolarização, outro ponto importante que separa Quito de Caracas é o papel limitado do Exército na vida pública. Enquanto Chávez, que era tenente-coronel do Exército, fez de sua revolução bolivariana uma revolução “cívico-militar”, Correa não incluiu as Forças Armadas como agentes de sua revolução cidadã.