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Levante popular pede renúncia de premier húngaro

Em uma gravação, primeiro-ministro Ferenc Gyurcsany reconhece que mentiu para vencer as eleições de abril passado. Revelação revoltou a população

Por Agencia Estado
Atualização:

Pelo menos 150 pessoas ficaram feridas na noite de segunda para terça-feira (horário local), após violentos confrontos entre a polícia e manifestantes em Budapeste, onde desde domingo a população pede a renúncia do primeiro-ministro, o social-democrata Ferenc Gyurcsany. No fim de semana, uma gravação de Gyurcsany reconhecendo ter mentido para vencer as eleições de abril passado foi revelada. Em conseqüência, cresceram os protestos dos oposicionistas, pedindo a queda do governo. Segundo fontes policiais, os confrontos de segunda-feira aconteceram em frente à sede da televisão pública. Durante a noite, um grupo de manifestantes ocupou parcialmente o edifício. Cerca de 100 policiais e 50 manifestantes ficaram feridos, segundo a polícia. Na tarde de segunda-feira, 10 mil pessoas se reuniram diante do Parlamento húngaro, na praça Kossuth. Segundo a agência "MTI", a violência começou quando um grupo de mil pessoas se dirigiu ao edifício da televisão, atendendo ao chamado de Laszlo Toroczkai, dirigente de uma organização radical que exige a transmissão ao vivo da leitura de um manifesto. A polícia tentou impedir a entrada no edifício utilizando gás lacrimogêneo e canhões de água. Mas cerca de 30 pessoas conseguiram entrar no prédio. Na praça onde ficam a sede da emissora e a embaixada dos Estados Unidos, os manifestantes incendiaram vários veículos. Eles danificaram também o monumento aos heróis soviéticos que morreram na cidade ao fim da Segunda Guerra Mundial. Os manifestantes, segundo a imprensa local, incendiaram várias instalações e roubaram equipamentos. A polícia só retomou o edifício depois das 3 horas da madrugada (horário local). O ministro do Interior, Joszef Petretei, apresentou sua renúncia a Gyurcsany, que não aceitou o pedido. Gravação Os protestos começaram depois de Gyurcsany ter admitido que seu governo socialista mentiu a respeito da economia para vencer as eleições. As declarações de Gyurcsany foram gravadas em um encontro com parlamentares poucas semanas depois das eleições de abril. Não está claro como a gravação vazou, mas trechos foram veiculados na rádio estatal. Nesses trechos, Gyurcsany afirma que são necessárias duras reformas econômicas. O primeiro-ministro agradece "a divina providência, a abundância de recursos na economia mundial e centenas de truques" por manter a economia às claras. "Nós mentimos de manhã, nós mentimos à noite", diz Gyurcsany na gravação, em um discurso cheio de obscenidades. No domingo, Gyurcsany apareceu na TV estatal ressaltando a necessidade de "conter a avalanche de mentiras que tem coberto o país ao longo de muitos anos". O primeiro-ministro defendeu seu linguajar, dizendo que foi usado durante um encontro com amigos e colegas, e que ele estava orgulhoso de seu "discurso apaixonado". Os confrontos de segunda-feira foram os piores na Hungria entre manifestantes e polícia desde a queda do comunismo e o estabelecimento da democracia no país, no fim dos anos 80.

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