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Líbano vive tensão próximo ao aniversário da morte de Hariri

Explosões em reduto de cristãos partidários do governo de Fuad Siniora deixaram 3 mortos; assassinato de ex-primeiro-ministro dividiu o país em facções pró e anti-Síria

Por Agencia Estado
Atualização:

Bombas armadas com pregos explodiram em dois microônibus que transportavam partidários do governo libanês de Fuad Siniora, um dia antes do de dois anos da morte do ex-primeiro-ministro Rafik Hariri. Ao menos três pessoas morreram e 20 ficaram feridas no atentado perpetrado em Ein Alaq, uma vila de maioria cristã a 35 quilômetros de Beirute. Para um político da base de apoio a Siniora, o ataque tinha por objetivo amedrontar os partidários do governo que participarão dos atos em protesto contra a morte de Hariri. Vítima de um atentado a bomba em 14 de fevereiro de 2005, o ex-primeiro era contrário à ingerência síria no Líbano - fato que levantou suspeitas de que Damasco possa estar por trás do assassinato. Governado por uma coalizão pró-Ocidente, o Líbano está mergulhado em uma espiral de violência desde que o Hezbollah - grupo mais forte da oposição pró - Síria ampliou seu apoio popular após uma guerra de um mês com Israel. Com as manifestações em repúdio à morte de Hariri marcadas para quarta-feira, teme-se que as disputas entre seguidores do governo e membros da oposição resulte em uma nova onda de violência, que das últimas vezes que aconteceram resultaram na morte de várias pessoas. Dois dos mortos são homens - um é o egípcio Mohammed Mahmoud - e o terceiro é uma mulher. Os dois libaneses eram cristãos. As explosões, segundo as fontes policiais, foram produzidas por bombas escondidas entre os assentos de dois microônibus, e que totalizavam entre dois e três quilos de explosivos. Campanha de assassinatos O assassinato de Hariri dividiu o Líbano em duas metades: a primeira, conhecida como "14 de março", é liderada pelo governo do sunita de Fouad Siniora e fortemente anti-Síria. A outra, encabeçada pelo Hezbollah e apoiada pelo presidente Émile Lahoud, é conhecida como "8 de março". O atentado desta terça-feira soma-se a uma série de assassinatos de personalidades, quase todas elas conhecidas por suas posturas anti-Síria. A região de Bikfaya, onde ocorreu o atentado, é uma área cristã e reduto da família de Pierre Gemayel, ex-ministro da Indústria morto em atentado não esclarecido em novembro do ano passado. O pai do ministro assassinado e ex-presidente russo, Amin Gemayel, pediu calma aos libaneses. "As vítimas, pertençam ao 14 de março ou ao 8 de março, são libanesas", disse, lembrando, entretanto, que o único modo de superar a tragédia será a criação do tribunal internacional que julgue o assassinato de Hariri. Presidente durante boa parte da guerra civil libanesa (de 1975 a 1990), Gemayel disse que "mãos estrangeiras" estariam por trás das explosões. "Libaneses não matam libaneses", disse ele. Outras vozes se mostraram menos conciliatórias. Para o ex-deputado Gabriel Murr, o atentado é "uma mensagem para os cristãos, para que não se manifestem amanhã", por isso pediu que não tenham medo e saiam às ruas. Crise prolongada É justamente entre os libaneses cristãos que a divisão social é maior: uma grande parte apóia o governo, com figuras como Samir Geagea e Amin Gemayel, enquanto outros, como é o caso do general Michel Aoun e do próprio presidente Emile Lahoud, formam uma estranha aliança com o Hezbollah e contra Siniora. Lahoud disse que o atentado de hoje é "uma mensagem clara para fazer abortar as tentativas destinadas a obter um acordo entre os libaneses para pôr fim à crise". No entanto, o acordo parece mais distante do que nunca devido ao clima vivido no país desde novembro, quando deputados xiitas e um leal a Lahoud abandonaram o governo. O objetivo era obrigar Siniora a formar um gabinete de união nacional no qual a atual oposição tivesse pelo menos oito ministros - o que poderia lhes garantir poder de veto nas decisões contrárias aos interesses sírios.

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