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Liberdade de imprensa tem pior nível em mais de 10 anos, diz estudo

ONG dos EUA mostra que repressão dos governos e crescimento de grupos terroristas são razões para piora da situação no mundo

Por Cláudia Trevisan , correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - A liberdade de imprensa no mundo se deteriorou de maneira acentuada em 2014 e atingiu o mais baixo patamar em mais de dez anos, com o aumento da repressão governamental e da violência de grupos terroristas e a intensificação da propaganda e da censura por regimes autoritários, mostra relatório da Freedom House divulgado na manhã desta quarta-feira, 29, em Washington.

Segundo a entidade, apenas 14% da população mundial vive em países onde a cobertura de assuntos políticos é "robusta", a segurança de jornalistas é garantida, a interferência do Estado no funcionamento da mídia é mínima e a imprensa não é sujeita a pressões econômicas ou legais. Outros 42% estão em regiões nas quais a imprensa é "parcialmente livre", classificação que abrange o Brasil. Os restantes 44% vivem em países onde jornalistas não têm liberdade de ação.

44% da população mundial vive em países onde os jornalistas não têm liberdade de ação Foto: Morguefile

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"A situação está piorando e está piorando rapidamente", disse Vanessa Tucker, da Freedom House, na divulgação do relatório. O índice de liberdade de imprensa elaborado pela entidade sofreu em 2014 a mais acentuada queda anual em mais de uma década.

Os principais fatores que contribuíram para a deterioração foram a aprovação de leis restritivas sobre a atuação da imprensa e as dificuldades para jornalistas terem acesso a determinados países e áreas de conflito, como a Síria. "Paradoxalmente, em um período de aparente acesso ilimitado à informação e novos métodos de distribuição de conteúdo, mais e mais áreas do mundo estão se tornando virtualmente inacessíveis a jornalistas", observa o relatório.

Um número crescente de regiões está fora do alcance da imprensa, em consequência de guerras civis e do avanço de grupos insurgentes. Entre elas, estão áreas da Síria e do Iraque controladas pelo Estado Islâmico, o nordeste da Nigéria, onde o Boko Haram é ativo, grande parte da Líbia e a península do Sinai no Egito.

Tucker ressaltou que o movimento de degradação da liberdade de imprensa em 2014 foi generalizado, atingiu países em quase todos os continentes e não se limitou a governos autoritários.

Entre as democracias, a África do Sul registrou um dos maiores retrocessos no índice elaborado pela Freedom House, em razão do uso de legislação da época do apartheid para levar à prisão jornalistas que investigavam casos de corrupção. Também houve declínio acentuada na Grécia, Hong Kong, Honduras, Islândia e Turquia. Na América Latina, a situação no Peru e na Venezuela piorou.

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Líbia e Tailândia registraram a maior queda no índice de liberdade de imprensa no ano passado, seguidos do Sudão do Sul e do Egito. Azerbaijão, Botswana, Mianmar, Camboja e Iraque completam a lista de 18 países onde a situação se deteriorou - o maior número de regiões com declínio em sete anos.

Classificados entre os países com imprensa livre, os Estados Unidos tiveram um ligeiro declínio no índice da Freedom House em consequência das ameaças e detenções de jornalistas durante os protestos que sacudiram a cidade de Ferguson, Missouri, depois da morte do jovem negro Michael Brown, em agosto.

Na América Latina, Venezuela, Equador, México, Honduras e Cuba são os cinco países nos quais não há liberdade de imprensa, segundo a Freedom House. Além de ser um dos mais perigosos países do mundo para jornalistas, o México aprovou legislação que permite o rastreamento de celulares e a suspensão de telecomunicações durante protestos.

A entidade ressalta que apesar da retomada de relações diplomáticas entre Havana e Washington, anunciada em dezembro, Cuba continua a censurar a imprensa e a prender jornalistas.

"A mídia brasileira enfrenta ameaças da violência e da impunidade, além de censura judicial", aponto o relatório. A entidade ressaltou que quatro jornalistas foram mortos no país em 2014 e muitos outros foram atacados durantes os protestos contra o governo realizados no ano passado.

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