Lições de Fukushima

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Por Gilles Lapouge
Atualização:

A população japonesa é corajosa, eficaz e orgulhosa. Quando, no dia 18, a França propôs enviar ao Japão 130 toneladas de material de alta tecnologia, em particular robôs concebidos para operações em ambiente perigoso e extremo, as autoridades do Japão agradeceram com elegância e recusaram a oferta. Não sabiam para que esses robôs poderiam servir no desastre das centrais de Fukushima. Ontem, os japoneses já se mostravam menos orgulhosos. Os três grupos franceses especializados em energia nuclear (Areva, EDF e a CEA), responderam ao pedido de ajuda da Tokyo Power Company, que administra a central de Fukushima. Não sabemos se os especialistas da Areva estão levando os tais robôs e as 130 toneladas de material ou se essa será apenas uma missão de aconselhamento, com os engenheiros franceses oferecendo uma "nova visão" sobre o acidente, graças à longa experiência da França na área nuclear.Dias antes, a Areva já tinha enviado ao Japão 100 toneladas de ácido bórico, substância que absorve nêutrons, para ser misturado à água destinada ao resfriamento dos reatores, além de equipamentos de uso individual, como máscaras, luvas e aparelhos respiratórios.Paralelamente, na França as dúvidas recaem sobre o estatuto e os perigos do átomo. Claro que, apesar do respeito aos ecologistas franceses, não existe no país uma rejeição em massa à energia nuclear para fins civis como ocorre na Alemanha. Em Paris, o desastre de Fukushima vem provocando um debate centrado menos na necessidade da energia nuclear e mais nas cautelas impostas por esse tipo de fonte energética.Nesse ponto, uma opinião predomina: a infelicidade dos japoneses deixou à vista de todos o que há muitos anos se suspeitava: uma irresponsabilidade escandalosa das autoridades japonesas, uma despreocupação criminosa na escolha dos locais para a instalação dessas usinas, uma falta total de transparência desde o início da catástrofe e, enfim, o sacrifício deliberado dos interesses coletivos (a população japonesa) em detrimento de interesses privados (da Tokyo Power Company).O enorme abalo moral que sacode o mundo depois dessa "marcha para o apocalipse" iniciada com a explosão dos reatores de Fukushima levou muita gente a questionar a necessidade da energia nuclear. Os mais radicais, como o Partido Verde alemão, exigem um abandono puro e simples da energia nuclear civil. Na França, os incrédulos são mais sutis. E se perguntam se, depois do desastre no Japão, temos o direito de deixar a gestão dessa área para empresas privadas - cuja lógica, por definição, é a "rentabilidade". Somente o Estado seria capaz de dominar e controlar essa aterradora energia. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINOÉ CORRESPONDENTE EM PARIS

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