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Lições do Oriente Médio

Governo de Barack Obama deveria aprender com erros e acertos de negociações de paz anteriores entre israelenses e palestinos que fracassaram

Por Jackson Diehl
Atualização:

THE WASHINGTON POSTDiplomatas dos EUA trabalharam meses para persuadir israelenses e palestinos a retomarem as negociações de paz. Quando parecia que teriam sucesso, veio a provocação: Israel decidiu expandir um assentamento em Jerusalém. Manchetes pipocaram por todo o mundo, a União Europeia protestou, os palestinos espernearam e ameaçaram boicotar novas conversações, a menos que a decisão fosse revista. Não, Joe Biden não estava em Jerusalém em dezembro de 2007 - ele estava concorrendo à presidência. Foi Condoleezza Rice, secretária de Estado de George W. Bush, que manejou aquela crise. Sua atuação oferece algumas lições para o governo de Barack Obama, que está se mostrando lento em aprender quando se trata do processo de paz no Oriente Médio. Condoleezza e seu ex-chefe foram muito criticados por não conseguirem realizar negociações entre israelenses e palestinos durante a maior parte de seu governo. Mas, durante seus dois últimos anos como secretária de Estado, ela se empenhou em um acordo e, no fim, chegou mais perto disso do que qualquer outro mediador americano. Ela teve a sorte de encontrar no então primeiro-ministro israelense Ehud Olmert um parceiro mais interessado em firmar um acordo do que Binyamin "Bibi" Netanyahu. Ela, porém, estudou a fundo a história dos processos de paz anteriores, o que explica por que evitou alguns erros de Obama. Como Condoleezza poderia ter dito à Casa Branca atual, a lição número um da história é que sempre haverá uma provocação que ameace desandar as negociações de paz. Os anúncios de assentamentos estão entre as mais comuns, junto com as demonstrações violentas de palestinos da Cisjordânia e dos ataques do Hamas em Gaza. O governo Obama viu as três nos últimos dez dias: a Casa Branca explodiu de raiva com uma e mal registrou as outras duas. Queixa. O truque é evitar que a provocação se torne o centro das atenções e insistir nas negociações. Foi o que Condoleezza fez quando surgiram as notícias sobre o assentamento de Jerusalém. Em público, ela disse que os EUA se opuseram ao assentamento "desde o início". Em privado, disse a Olmert: "Não deixe que isso aconteça de novo". Para o presidente palestino, Mahmoud Abbas, a mensagem foi curta e grossa: "Você pode negociar uma fronteira para um Estado palestino, tornando irrelevantes os assentamentos, ou boicotar e deixar a construção prosseguir." Não surpreende que Abbas - que tomou o ataque de Obama a Israel como uma deixa para boicotar - compareceu às negociações de Condoleezza. O governo Bush lhe ofereceu, em privado, uma garantia: qualquer assentamento que ocorresse durante as negociações não seria aceito pelos EUA na hora de traçar uma fronteira final. Sobre os assentamentos, Condoleezza adotou uma diretriz pragmática, que chamou de "Teste Google Earth": um assentamento que se expandisse era um problema; um que permanecesse dentro de sua fronteira territorial existente, não era. A virtude de tudo isso é que Condoleezza colocou israelenses e palestinos conversando, não sobre assentamentos, mas sobre o que eles precisavam discutir - o futuro palestino. Olmert e Abbas trataram de tudo: fronteira, Jerusalém, acordos de segurança, como lidar com os milhões de refugiados palestinos. Privadamente, eles acertaram muita coisa. Por fim, Olmert apresentou a Abbas um plano detalhado para um acordo final, que ia além de tudo o que Israel e EUA já haviam proposto. Entre outras coisas, o plano falava de um Estado palestino com capital em Jerusalém e teria permitido o retorno de 10 mil refugiados a Israel. Foi aí que Condoleezza aprendeu uma outra lição que o atual governo parece não ter captado: os líderes palestinos têm dificuldade em dizer "sim". Diante do acordo, Abbas vacilou. Ele se recusou a assiná-lo e a apresentar uma contraproposta. Por trás da luta de Obama com Netanyahu há o cálculo de que um acordo de paz obrigue os EUA a convencer o atual governo de Israel. É bastante improvável que Bibi aceite os termos que Olmert ofereceu. Mas, por trás desse obstáculo, existe outro: a recalcitrância de Abbas, que Obama tem sido lento em reconhecer. Está tudo nos anais da diplomacia de Condoleezza - mas, fazer o quê, era o governo Bush. / TRADUÇÃO DE CELSO M. PACIORNIK JORNALISTA E COMENTARISTA

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