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Líder afegão ameaça invadir Paquistão

Presidente Hamid Karzai alerta que lançará ataques contra militantes taleban abrigados no país vizinho

Por Reuters , AFP , AP e Cabul
Atualização:

O presidente do Afeganistão, Hamid Karzai, ameaçou ontem enviar tropas ao vizinho Paquistão para matar militantes do grupo fundamentalista Taleban se eles continuarem com seus ataques na fronteira do país. Em entrevista coletiva na capital Cabul, Karzai disse que capturará todos os rebeldes que estão escondidos no país vizinho. O presidente afegão se referiu especificamente ao líder taleban Baitullah Mehsud, que estaria refugiado na região tribal do Waziristão do Sul. Ele é acusado pelo governo paquistanês de ter organizado o atentado que causou a morte da ex-primeira-ministra Benazir Bhutto, em 27 de dezembro. "Mehsud precisa saber que atacaremos sua casa e iremos buscá-lo", ameaçou o presidente afegão. Karzai também advertiu o líder religioso radical Fazlullah, cuja base de operações fica no norte do Paquistão, de que o Afeganistão não poupará suas bases e seus militantes. "O Afeganistão tem o direito de se defender", afirmou Karzai, que alertou para a ameaça representada por uma possível passagem de insurgentes de um lado para o outro da fronteira entre os dois países. "Quando eles cruzam o território a partir do Paquistão para vir matar afegãos e soldados das forças da coalizão, nos dão certamente o direito de ir atrás deles e fazer o mesmo." Recentemente, Mehsud e outros dirigentes do Taleban haviam prometido enviar combatentes ao Afeganistão para lutar contra os afegãos e as forças estrangeiras que ocupam o país. RESPOSTA O primeiro-ministro paquistanês, Yusuf Raza Gilani, reagiu com irritação às afirmações de Karzai. Gilani disse ontem que não permitirá que ninguém interfira em assuntos internos do Paquistão. "Nunca interferiremos nos assuntos internos de outros países e não permitiremos que ninguém interfira nos nossos", afirmou. "As declarações [DE KARZAI]de Karzai não ajudarão em nada a normalização das relações entre os dois países e ferirão os sentimentos das populações de ambos os lados da fronteira", acrescentou o premiê, que reiterou sua vontade de ter "laços de amizade mais fortes" com as autoridades de Cabul. Não foi a primeira vez que Karzai criticou o governo do Paquistão. O Afeganistão acusa seus vizinhos de não se esforçarem de maneira suficiente para impedir a entrada de militantes do Taleban e de membros da rede terrorista Al-Qaeda em território afegão. O governo paquistanês se defende e diz que as autoridades do Afeganistão e a coalizão internacional fracassam ao não conseguir derrotar o Taleban e que, por isso, seriam responsáveis pela mobilização do grupo rebelde no Paquistão e pela onda de violência que afeta o país. Afeganistão e Paquistão são aliados dos EUA no combate ao terrorismo. A relação entre os dois países, porém, passa por um momento complicado em razão da violência lançada por radicais islâmicos nos dois territórios. Desde que assumiu o Executivo paquistanês, em março, Gilani deu uma nova direção à política antiterror do Paquistão. Ao contrário do presidente paquistanês, Pervez Musharraf, aliado ferrenho dos EUA na luta contra o terror, Gilani apostou no diálogo com os insurgentes. Em maio, Karzai demonstrou preocupação com essa nova abordagem e afirmou que ela poderia afetar a segurança do Afeganistão. A relação piorou ainda mais na quarta-feira, quando o governo de Gilani acusou as tropas dos EUA no Afeganistão de matarem 11 soldados do Paquistão em um ataque aéreo em território paquistanês. O comando militar americano disse que atacou um grupo de insurgentes e negou que seus soldados tenham ultrapassado a fronteira. FUGA Ontem, em comunicado à imprensa, o governo afegão comentou a fuga de quase 900 militantes do Taleban de uma prisão de Kandahar. Eles foram libertados após uma operação orquestrada por milicianos ligados ao grupo. Segundo Karzai, o incidente é mais um sinal da fragilidade do Afeganistão diante do que ocorre no país vizinho.

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