Líder conservador britânico diz que não será "escravo" de políticas dos EUA

Segundo David Cameron, a Inglaterra tem de ser "firme, mas não escrava, em sua amizade com os EUA"

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Por Agencia Estado
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O líder da oposição da Grã-Bretanha afirmou nesta segunda-feira que, chegando ao poder, adotará uma política externa menos subserviente aos Estados Unidos do que a assumida pelo premier Tony Blair, e criticou a prisão americana na Baía de Guantánamo e o "desproporcional" bombardeio de Israel no Líbano. Discursando no quinto aniversário dos atentados de 11 de setembro, o líder conservador David Cameron disse que a Grã-Bretanha deveria ser "firme, mas não escrava, em sua amizade com os EUA". "Nunca, até recentemente, fomos um aliado inquestionável dos EUA", afirmou Cameron se referindo a Blair, cujo apoio à invasão americana do Iraque o tornou profundamente impopular entre seus eleitores. As políticas "representam uma visão que vê apenas a luz e as trevas no mundo - e que acredita que alguém pode transformar-se no outro tão rapidamente quanto o apertar de um botão". "Não vejo as coisas desta forma", continuou. "Sou um liberal conservador, e não um neoconservador" - o termo usado para definir Bush e seus partidários intelectuais. Os conservadores governaram a Grã-Bretanha de 1979 a 1997, mas perderam as três últimas eleições para o Partido Trabalhista, de Blair. Cameron, de 39 anos, tem se empenhado para revitalizar o partido desde que foi eleito seu líder em dezembro, amenizando a dura imagem de lei e ordem e capitalizando o descontentamento dos eleitores com o que consideram seja o apoio cego de Blair às políticas de Bush. Mas seu partido, que apoiou as invasões do Afeganistão e do Iraque, tem encontrado dificuldade em se distanciar da política externa de Blair, e a calorosa relação entre Bush e Blair tem minado a tradicional proximidade dos conservadores britânicos com os republicanos americanos. Em seu discurso, Cameron criticou implicitamente a condução da guerra no Iraque, dizendo que "a democracia não poder ser rapidamente imposta a partir do exterior". "Bombas e mísseis são maus embaixadores", julgou. "Eles não conquistam corações nem mentes; eles não podem construir democracias." Segundo ele, a Grã-Bretanha "não pode ser condescendente com o que é contrário à liberdade - seja a Baía de Guantánamo, ou aqui internamente com períodos excessivos de detenção sem julgamento". No ano passado, legisladores derrotaram uma tentativa de governo de dar à polícia poderes para deter suspeitos de terrorismo por 90 dias sem acusação formal. Cameron apoiou o limite de 28 dias, que foi aprovado no final. "Não podemos fazer vistas grossas para excessos de nossos aliados, seja abusos dos direitos humanos em alguns países árabes, seja o desproporcional bombardeio israelense no Líbano", frisou. Defendendo uma política externa mais multilateral, Cameron destacou que "como descobrimos em anos recentes, um país pode agir sozinho, mas não pode sempre ter sucesso sozinho". "Os Estados Unidos aprenderam dolorosamente essa lição" no Iraque, afirmou. Entretanto, Cameron rechaçou o antiamericanismo, que equivale à "rendição intelectual e moral". As declarações de Cameron marcaram um forte contraste com comentários feitos pela ex-primeira-ministra conservadora Margareth Thatcher, que participou nesta segunda-feira de uma cerimônia pelo 11 de setembro na Casa Branca. Num comunicado, Thatcher disse que a Grã-Bretanha e os EUA "não podem hesitar" na luta contra "fanáticos islâmicos que odeiam nossas crenças, nossas liberdades e nossos cidadãos".

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