Líder de Hong Kong ganha tempo enquanto manifestantes exigem renúncia

Os manifestantes exigem que Leung Chun-ying, apoiado por Pequim, renuncie até o fim de quinta-feira, o que ele se recusa a fazer

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Por JOHN RUWITCH E YIMOU LEE
Atualização:
De acordo com uma fonte do governo ligada a Leung, o líder está disposto a esperar que as passeatas percam força e só interviria se houvesse saques ou episódios de violência Foto: Vincent Yu/AP

O líder de Hong Kong está disposto a deixar que as manifestações pró-democracia que bloqueiam grande parte da cidade se arrastem por semanas se necessário, relatou uma fonte próxima do executivo-chefe, enquanto os desafiadores manifestantes afirmam que não irão ceder.

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As ruas da cidade estavam calmas no início da quinta-feira pelo horário local. Em sua maior parte, os policiais mantiveram distância das dezenas de milhares de pessoas, predominantemente jovens, que mantinham as manifestações no coração do importante centro financeiro asiático, e que já duram uma semana.

Os manifestantes exigem que Leung Chun-ying, apoiado por Pequim, renuncie até o fim de quinta-feira, o que ele se recusa a fazer, deixando os dois lados profundamente divididos na disputa sobre quanto poder político a China deve ter sobre a ex-colônia britânica.

O popular movimento "Occupy Central" representa um dos maiores desafios políticos para Pequim desde que o governo chinês reprimiu violentamente os protestos pró-democracia na Praça da Paz Celestial em 1989.

De acordo com uma fonte do governo ligada a Leung, o líder está disposto a esperar que as passeatas percam força e só interviria se houvesse saques ou episódios de violência.

“A menos que surja uma situação caótica, não enviaremos a tropa de choque... esperamos que isso não aconteça”, disse a fonte. “Temos que lidar com isso pacificamente, mesmo que dure semanas ou meses”. Leung não foi encontrado para comentar o assunto.

A tropa de choque usou gás lacrimogêneo, spray de pimenta e cassetetes no último fim de semana para tentar controlar o tumulto, o pior em Hong Kong desde que a China retomou o controle do território em 1997.

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O secretário de Estado norte-americano, John Kerry, disse ter “grandes esperanças” de que as autoridades de Hong Kong irão exercitar a contenção, e seu colega chinês declarou que outros países não devem se intrometer nos assuntos internos da China.

“O governo chinês afirmou sua posição de maneira muito formal e clara. Os assuntos de Hong Kong são assuntos internos da China. Todos os países deveriam respeitar a soberania chinesa”, afirmou o ministro das Relações Exteriores, Wang Yi, antes de conversas com Kerry nos Estados Unidos.

O dia da pátria, um feriado nacional que assinala a fundação da República Popular da China em 1949, transcorreu nesta quarta-feira sem a repressão policial que muitos temiam, embora algumas pessoas tenham vaiado a execução do hino nacional.

DILEMA Nas primeiras horas de quinta-feira, feriado local, cerca de 200 pessoas haviam se reunido perto do gabinete de Leung e cerca de 50 policiais se posicionaram ao lado de barreiras metálicas instaladas no local. Leung disse que Pequim não irá ceder diante dos protestos e que a polícia de Hong Kong conseguirá manter a segurança sem a ajuda dos soldados do Exército de Liberação do Povo (PLA, na sigla em inglês) da China. A China repudiou os protestos, que chamou de ilegais, e a liderança do Partido Comunista em Pequim viu como preocupantes as manifestações pró-democracia que se espalharam para os vizinhos Macau e Taiwan. Agora, a China tem um dilema. Reprimir o movimento com muita força poderia abalar a confiança em Hong Kong, voltada para o mercado e que tem um sistema legal separado do resto da China, e não agir com firmeza suficiente poderia estimular os dissidentes no continente. O tumulto em Hong Kong também começou a afetar a economia. A rádio RTHK citou Joseph Tung, diretor-executivo do Conselho da Indústria de Viagem da cidade, que teria dito que as autoridades turísticas chinesas suspenderam a aprovação de grupos de turistas do continente para Hong Kong mencionando questões de segurança. Alguns bancos e outras instituições financeiras começaram a transferir funcionários para instalações alternativas nos arredores de Hong Kong para evitar que a agitação crescente interrompa o comércio e outras atividades importantes. O índice da bolsa de Hong Kong caiu 7,3 por cento ao longo do último mês. Os mercados estão fechados nesta quarta-feira e na quinta-feira devido a feriados locais. (Reportagem adicional de Charlie Zhu, James Pomfret, Irene Jay Liu, Farah Master, Diana Chan, Twinnie Siu, Kinling Lo, Clare Baldwin, Diana Chan e Anne Marie Roantree, em Hong Kong; de Sui-Lee Wee, em Pequim; de Stephen Addison, em Londres; e de Lesley Wroughton e Arshad Mohammed, em Washington)

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