Líder de Hong Kong retira polêmico projeto de lei de extradição

Com medida, Carrie Lam, ligada a governo chinês, tenta pôr fim a meses de protestos; manifestantes prometem seguir nas ruas

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Por Redação
Atualização:

A líder executiva de Hong Kong, Carrie Lam, confirmou nesta quarta-feira,4, a retirada de um projeto de lei de extradição que desencadeou meses de protestos e mergulhou a cidade controlada pela China em sua pior crise em anos.

O anúncio foi feito durante uma reunião interna com parlamentares pró-establishment e delegados de Hong Kong no Congresso Nacional do Povo da China. Na terça-feira, 4, Lam disse a líderes empresariais que causou um "dano imperdoável" ao apresentar o projeto de lei e que, se tivesse escolha, pediria desculpas e renunciaria, segundo uma gravação de áudio vazada.

Em comunicado, polícia de Hong Kong acusou manifestantes de serem violentos; no fim de semana, os mais radicais atiraram bombas inflamáveis, mas a maioria protestou de forma tranquila Foto: Kin Cheung/ AP

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Na reunião a portas fechadas com líderes empresariais na semana passada, Carrie disse que hoje tem um espaço de manobra "muito limitado" para resolver a crise porque os tumultos se tornaram uma questão de segurança nacional e soberania para a China em meio às tensões com os Estados Unidos.

Os protestos contra o projeto de lei da ex-colônia britânica começaram em março, mas cresceram em junho e desde então se tornaram um clamor por mais democracia.

O projeto de lei teria permitido extradições à China continental, onde os tribunais são controlados pelo Partido Comunista.

Não ficou claro de imediato se a retirada do projeto de lei ajudará a acalmar os ânimos. A reação imediata pareceu ser de ceticismo, e o verdadeiro teste será quantas pessoas irão continuar indo às ruas.

Além da chefe do Poder Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, a medida também penaliza qualquer transação financeira dos EUA com outras 11 autoridades, como o chefe da Polícia, Chris Tang Foto: Anthony WALLACE / AFP

Protestos devem continuar

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Em entrevista à CNN, um dos líderes dos protestos, Joshua Wong, falou que a retirada do projeto não é suficiente, e que apenas a abertura democrática e a convocação de novas eleições fará os protestos terminarem.

Há duas semanas, várias figuras importantes do movimento pró-democracia de Hong Kong foram detidas. A operação foi denunciada por associações como uma tentativa da China de amordaçar a oposição após a proibição de novas manifestações.

Um dos detidos foi Joshua Wong, o mais proeminente porta-voz dos manifestantes, que liderou as manifestações por democracia em 2015. Ele foi solto no mesmo dia, após pagar fiança. Outra proeminente ativista do movimento, Agnes Chow, também foi presa e solta horas depois, junto com Wong .

Muitos manifestantes estão furiosos por causa da percepção da brutalidade policial e o número de prisões de manifestantes (1.183 na última conta), e querem um inquérito independente.

"Isto não acalmará os manifestantes", disse Boris Chen, de 37 anos, que trabalha com serviços financeiros. "Em qualquer época, as pessoas encontrarão algo com que possam se revoltar".

Pearl, de 69 anos, disse que os protestos não dizem mais respeito ao projeto de lei. "Alguns destes caras podem mudar de ideia, talvez, mas só uma minoria", disse ela sobre os manifestantes. "Alguns deles só querem criar problemas, e continuarão a fazê-lo".

Joshua Wong, líder dos protestos pró-democracia de 2014 e precursor dos tumultos atuais, afirmou em sua página de Facebook: "Muito pouco e tarde demais".

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A região semiautônoma enfrenta há quase três meses a crise mais grave desde sua devolução, por parte do Reino Unido, à China em 1997, com manifestações quase diárias, incluindo algumas que terminaram em confrontos.

Protestos em Hong Kong duram meses

Os protestos em Hong Kong começaram pacíficos e evoluíram nas últimas semanas para confrontos violentos com a polícia. Eles contestam uma lei de extradição de moradores de Hong Kong para a China, onde o sistema judiciário é menos transparente que o do ex-território britânico.

Uma das demandas dos manifestantes é a renúncia de Lam, que se tornou um alvo dos protestos. Numa gravação vazada para jornalistas na semana passada, Lam diz que pretendia deixar o cargo. 

China, no entanto, é o principal obstáculo para que isso ocorra. Cabe a Pequim definir quais os candidatos nas eleições locais, e o Partido Comunista Chinês costuma vetar algumas candidaturas de candidatos pró-democracia.

Desde que Hong Kong saiu do controle britânico para o chinês em 1997, o controle do território tem sido alternado entre dois partidos: um mais ligado à burocracia britânica e outro à China continental. Lam pertence ao primeiro.

Em consequência disso, a facção pró-China tende a adotar uma linha mais dura contra protestos. A discussão, dizem fontes do governo autônomo, não é simples. Desde a devolução, todos os governadores do território enfrentaram problemas políticos. 

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Pequim tem bancado Lam e expressado publicamente seu apoio. O favorito para ser o próximo governador, no entanto, deve ser Paul Chan, o responsável pelas finanças da ilha. /REUTERS E AFP

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