Líder do Hamas faz novo aceno de paz

Khaled Meshal propõe fronteiras pré-1967 e trégua de dez anos

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Por Taghreed el-Khodary , Ethan Bronner e DAMASCO
Atualização:

O líder do grupo radical palestino Hamas disse na segunda-feira que os seus combatentes tinham interrompido os disparos de foguetes contra Israel e fez uma limitada concessão ao governo do presidente dos EUA, Barack Obama, dizendo que o grupo buscava apenas a formação de um Estado palestino restrito aos territórios conquistados por Israel em 1967. "Prometo ao governo americano e à comunidade internacional que nós agora seremos parte da solução", disse Meshal, durante uma entrevista de cinco horas concedida ao longo de dois dias ao jornal americano The New York Times, em Damasco, capital síria. Falando em árabe, numa casa fortemente protegida por agentes de segurança palestinos e sírios, Meshal, de 53 anos, transmitiu um ar de serenidade e autoconfiança depois de ser reeleito pela quarta vez para ocupar por mais quatro anos a liderança do braço político do Hamas, posição mais alta dentro do movimento. Entretanto, o discurso conciliatório não foi além disso. Ele repetiu sua recusa em reconhecer Israel. "Nesta região há um único inimigo: Israel", disse. MUDANÇA No entanto, ele insistiu para que os observadores ignorassem a carta de fundação do Hamas, que pede a completa destruição de Israel. Meshal não se mostrou disposto a revogar a carta, mas disse que ela já tinha 20 anos, acrescentando: "Somos moldados pelas nossas experiências." Ele explicou o porquê de estar concedendo a entrevista, a primeira à imprensa americana em cerca de um ano. "Para compreender o Hamas, é preciso que sua visão seja expressada diretamente. O Hamas fica muito lisonjeado quando as pessoas procuram diretamente seus líderes para saber sobre o movimento, e não quando tentam informar-se a respeito dele por meio de terceiros", explicou. Em relação a Obama, Meshal disse que "a linguagem que ele emprega é diferente e positiva", mas expressou seu descontentamento com a secretária de estado dos EUA, Hillary Clinton, dizendo que "o discurso dela reflete as medidas do governo anterior". Quanto à solução de dois Estados proposta pelos americanos, ele disse: "Concordamos com o estabelecimento de um Estado a partir das fronteiras de 1967, e apoiado numa trégua de dez anos." Com exceção do prazo de validade da trégua e da recusa em aceitar a existência de Israel, os termos de Meshal são muito próximos daqueles propostos pelo plano de paz da Liga Árabe e daquilo que a Autoridade Palestina, comandada pelo presidente Mahmoud Abbas, diz almejar. Israel rejeita um recuo total até as fronteiras de 1967, bem como a concessão aos palestinos do direito de retorno a Israel. Durante a conversa, Meshal esforçou-se para mostrar que o Hamas mantém o controle sobre seus militantes e sobre os demais grupos armados. "Os foguetes são um meio, e não uma finalidade em si. A resistência é um direito legítimo, mas a prática desse direito passa pela avaliação dos líderes do movimento", afirmou.

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