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Líder entendeu mal a voz das urnas, dizem analistas

Evo não teria compreendido que referendo também legitimou governadores de oposição

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Por Redação
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O impasse entre oposição e governo divide a Bolívia em dois países distintos. De um lado, quatro dos nove departamentos (Estados) bolivianos que exigem autonomia. De outro, o governo do presidente Evo Morales que clama pela unidade nacional. A solução para o confronto parece longe. "Não há datas nem prazos para resolver o problema", afirmou o cientista político Carlos Toranzo, coordenador de projetos da Fundação Friedrich Ebert, em La Paz. "Enquanto os dois lados não derem início a um diálogo aberto e sincero, a situação tende a piorar." Toranzo afirma que os protestos se radicalizaram após o referendo revogatório de 10 de agosto. "Após o resultado da ratificação dos líderes no poder, o governo de La Paz foi legitimado, mas ao mesmo tempo, os autonomistas também", disse o analista. "Evo, do alto de sua votação de 67% no referendo revogatório, parece não ter entendido bem a natureza desse resultado e o viu como um sinal verde para seguir em frente com seu projeto hegemônico e decidiu convocar a votação para a nova Carta boliviana." Na sexta-feira, Evo convidou os governadores das regiões opositoras de Santa Cruz, Beni, Pando e Tarija para negociar o fim da crise institucional que toma conta do país. Mas segundo Toranzo, Evo já fez outras convocações que não foram bem-sucedidas. "Outras vezes, o presidente mostrou-se disposto a dialogar, mas apenas para obter uma repercussão positiva na imprensa nacional e internacional", disse. "Se os dois lados não atenuarem as exigências, uma solução é pouco provável." O analista político Marco Antonio Fernández explica que as duas partes têm visões diferentes e projetos distintos para o desenvolvimento do país. "Tanto governo quanto oposição agem como fundamentalistas. Aparentemente, nenhum dos dois lados se dispõe a entender a questão social na Bolívia para chegar a um consenso." A oposição é contra o projeto da nova Constituição promovido por Evo, à qual qualifica de "ditatorial" por ter sido aprovada de maneira unilateral por deputados do partido governista, em sessão extraordinária e em um quartel no ano passado. Ela também quer o reconhecimento das autonomias regionais. Para Fernández, a crise do país vai além do tema da autonomia: "A questão do limite para os latifúndios também é parte do problema." Os bolivianos também deverão determinar no dia do referendo se as propriedades rurais terão de se limitar a 5 mil ou 10 mil hectares. Para os analistas, o principal prejudicado com o confronto será o próprio Evo. "Nos últimos dias ficou provado que o Estado é incapaz de organizar-se", disse Toranzo. "Evo sai politicamente debilitado e com poucas chances de se recuperar do desgaste."

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