Líder islâmico critica distorções do Alcorão

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Por Agencia Estado
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O sheik Nasser Abou Jokh, do Centro Islâmico Brasileiro, localizado na Asa Norte, bairro de classe média de Brasília, acompanhou com a apreensão e incredulidade os ataques terroristas ocorridos ontem nos Estados Unidos. Mas repele com veemência as ligações estabelecidas entre o ataque e a religião islâmica. De acordo com ele, o Alcorão, livro sagrado dos muçulmanos, ensina que matar uma pessoa equivale a matar toda a humanidade e que a palavra islamismo, em essência, significa submissão à vontade de Deus e busca da paz. "A guerra não interessa a ninguém, muito menos a nós", reiterou. O líder religioso considera perigoso dizer que ações terroristas são provocadas pelo fundamentalismo islâmico. "Não se pode atribuir os erros de um ou de outro à religião muçulmana, como os crimes praticados por alguém que se diz cristão não pode ser atribuído ao Cristianismo enquanto religião". Ele afirma que existem distorções em relação à palavra Jihad, erroneamente traduzida como guerra santa no vocabulário árabe. "Jihad é o esforço pessoal em prol de algo. Visto dessa maneira, uma criança estudando, bem como um adulto trabalhando, são Jihad". E emenda que Guerra Santa é uma expressão cristã, inventada pela Igreja Católica durante o período das Cruzadas. Nasser destacou que há três tipos de religiosos: os conservadores, os liberais e os radicais religiosos. "Os primeiros buscam seguir os ensinamentos contidos no Alcorão, o segundo grupo simplesmente renega tudo que venha das escrituras sagradas; já os radicais extrapolam os ensinamentos do profeta Maomé (Mohamad, no original)". Apesar do islamismo reconhecer o valor de se morrer em defesa da família, da residência ou da pátria, o sheik dá a entender que os ataques suicidas realizados por extremistas, que estouram bombas atreladas ao próprio corpo ou atiram carros e aviões sobre alvos civis, não condizem com os ensinamentos contidos no Alcorão. "Há uma regra de Mohamad que orienta o muçulmano a, quando entrar em um combate, não matar mulheres, crianças, idosos e animais, não derrubar casas nem queimar plantações". Brasileiro, filho de pai libanês e mãe italiana, Nasser sabe a importância da convivência pacífica entre os diversos credos religiosos. Sua mãe é cristã, freqüentadora da Igreja Universal do Reino de Deus, mas nunca teve atritos com o filho, principal representante da religião muçulmana no Distrito Federal. Com 1,3 bilhão de seguidores em todo o mundo, a religião islâmica só perde para o cristianismo, com 1,9 bilhão de adeptos. Para Nasser, é necessário muito diálogo, compreensão e calma para acabar com os conflitos entre árabes e judeus no Oriente Médio. Ele lembra que os dois povos têm suas origens intimamente ligadas. Enquanto os árabes descendem de Ismael, os judeus provêm de Isaac, ambos filhos de Abrahão. "Eu comparo com uma briga entre dois irmãos. Se ambos não cederem, será difícil chegar a um acordo".

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