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Líder islâmico somali declara guerra santa contra a Etiópia

Milicianos islâmicos mataram dois manifestantes que protestavam contra as Cortes Islâmicas

Por Agencia Estado
Atualização:

O líder dos Tribunais Islâmicos da Somália convocou nesta sexta-feira os cidadãos para lutarem uma guerra santa contra a Etiópia, um dia depois que soldados etíopes invadiram o país para apoiar o enfraquecido governo somali, derrubado pelas milícias islâmicas. "A Etiópia quer colonizar o povo somali e nós não aceitaremos isso", afirmou o líder da União de Tribunais Islâmicos, Sheikh Sharif Sheik. O grupo islâmico organizou manifestações contra a Etiópia na capital nesta sexta-feira e milicianos mataram duas pessoas que participavam de um ato contra as Cortes Islâmicas. A presença de soldados etíopes foi o tema que dominou as orações de hoje em Mogadiscio. Depois das orações, mais de 500 veículos percorreram as ruas dos arredores de Mogadiscio em uma tentativa dos líderes islâmicos de pedir à população que se una à "jihad" (guerra santa) contra as tropas estrangeiras. Os habitantes de Mogadiscio começavam a se recuperar dos combates contra milicianos islâmicos e os "senhores da guerra", que até então dominavam a capital, ocorrido entre fevereiro e junho, que deixou mais de 400 mortos. Agora, influenciados pelas mensagens dos Tribunais Islâmicos, muitos estão dispostos a incorporar-se a uma luta que até então era evitada. Presença etíope Um número indeterminado de soldados etíopes a bordo de aproximadamente 100 veículos foram vistos nesta quinta-feira por habitantes da cidade de Baidoa, 245 quilômetros ao noroeste de Mogadiscio, sede do Governo de transição. Embora tanto o Governo da Etiópia como o da Somália sigam negando esta presença, testemunhas confirmaram nesta sexta-feira que as tropas etíopes se encontram em seis posições diferentes nos arredores de Baidoa. O parlamentar Abdi Abdule Said, do clã do presidente Abdullahi Yousef Ahmed, foi além e assegurou que as tropas etíopes estão se deslocando para Mogadiscio, que desde o dia 6 de junho está controlada pelos Tribunais Islâmicos. "Os etíopes estão dirigindo-se em direção a Mogadiscio para ocupar todo o país", afirmou o parlamentar, também conhecido como Jini Boqor. "A presença de etíopes na Somália não servirá para proteger o Governo e significará o seu fim", insistiu o parlamentar. O movimento dessas tropas rumo a Mogadiscio foi confirmado também por moradores do setor de Bur Hakaba, em Baidoa, e por um assistente social que estava chegando à cidade pela estrada que a liga com a capital do país. A Etiópia já advertiu previamente que invadiria a Somália se os milicianos islâmicos chegassem a Baidoa, que fica entre Mogadiscio e a fronteira com a Etiópia. O Governo de Adis-Abeba teme que a expansão do islamismo na Somália chegue a seu território. Testemunhas insistem que a presença de soldados etíopes em Baidoa deixou de ser secreta, porque soldados uniformizados realizam patrulhas pela cidade, entrando e saindo livremente de Baidoa, que está sob o toque de recolher decretado pelo primeiro-ministro, Ali Mohammed Ghedi. O jornalista de uma emissora de rádio local, Saynab Abukar Mohammed, disse que as tropas etíopes possuem 160 caminhonetes equipadas com metralhadoras e outros veículos blindados, incluindo tanques. Caos A Somália vive em meio ao caos desde a derrubada do ditador Mohammed Siad Barre em 1991, o que abriu uma luta entre os "senhores da guerra", vinculada agora também aos milicianos dos Tribunais Islâmicos. Os Estados Unidos pediram na quinta-feira que a Etiópia tenha calma e afirmou que se reunirá com a União Européia, a União Africana, a Liga Árabe para discutir a situação no país. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, expressou preocupação com o crescimento das tensões perto de Baidoa e pediu, por meio de um comunicado da ONU, que as partes envolvidas dialoguem.

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