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Líder israelense sugere uso de gás em Basílica para expulsar palestinos

Por Agencia Estado
Atualização:

O líder de extrema-direita israelense Avigdor Lieberman, presidente do Partido da União Nacional, propôs, em Tel Aviv, em entrevista a uma rádio militar, o uso de um gás não-determinado para desalojar os 245 homens entrincheirados no interior da Basílica de Belém. Segundo ele, não há necessidade de destruí-la: "Temos outros meios técnicos - enchemos a igreja de gás, obrigando-os a abandoná-la?, argumentou Lieberman, que, no mês passado, renunciou a seu cargo no governo de Sharon por considerá-lo demasiado moderado. No nono dia de cerco à Basílica da Natividade, em Belém, um franco-atirador israelense feriu gravemente nesta quarta-feira um monge armênio, enquanto o governo de Ariel Sharon rejeitava qualquer responsabilidade sobre o incidente e publicava uma lista de 10 "terroristas" que se encontrariam nesse templo. O monge é a segunda vítima em menos de 24 horas, depois de um guarda palestino ter sido, nesta terça-feira, gravemente ferido no abdome por um militar israelense - e ainda permanecer no convento franciscano. O diácono armênio, Armin Sinanian, de 22 anos, encontrava-se em seu quarto, sentado de costas para a janela fechada que dá para a Praça da Manjedoura, disse seu superior, o bispo do Patriarcado Armênio em jerusalém, Arrs Shirvanian. Um projétil entrou aparentemente pela janela de Sinanian, abrindo um rombo de 6 centímetros no vidro e penetrando no pescoço e pulmões do jovem religioso. A vítima foi internada num hospital de Jerusalém e está em condições "estáveis", segundo o médico cirurgião Avi Rifkin. Em uma versão diferente dos fatos, os israelenses disseram que os disparos ocorreram enquanto se distribuíam alimentos, e um franco-atirador errou ao mirar no monge, que estava em companhia de um palestino armado tomando água no pátio. A Igreja Armênia qualificou esta versão de "mentirosa". Francos-atiradores israelenses se encontram posicionados em todos os edifícios que cercam a zona. A Praça da Manjedoura e o complexo religioso nela localizado não são acessíveis aos jornalistas desde o início da ocupação militar da cidade santa, em 2 de abril passado. Os disparos contra o templo católico e os conventos fazem crescer ainda mais a tensão, já alta depois de Israel rejeitar a proposta dos patriarcas na Palestina para a transferência, "sob garantias internacionais", dos refugiados dentro da igreja para Gaza, ao sul do território ainda controlado pela Autoridade Nacional Palestina. O presidente israelense, Moshe Katsav, escreveu nesta terça-feira uma carta para o papa João Paulo II para comunicar-lhe que o exército do país não tem alternativa senão o cerco, porque dar um salvo-conduto aos "terroristas extremamente perigosos" presentes na igreja seria uma ameaça à segurança pública. Katsav assegurou ao papa que as operações do exército não afetarão a Basílica da Natividade. Um porta-voz do exército confirmou nesta quarta-feira as afirmações da carta ao divulgar uma lista de dez nomes de "terroristas" que teriam profanado o lugar sagrado ao se abrigarem em seu interior. Enquanto isso, dentro da igreja, à medida que as horas passam as condições se tornam mais dramáticas, com alimentos e água praticamente esgotados. Os 245 refugiados e 45 religiosos - entre franciscanos, monges armênios ortodoxos e freiras - comeram hoje menos de um punhado de arroz. Os três feridos palestinos, incluindo o da terça-feira à noite, estão em gravíssimas condições. O corpo de um palestino, assassinado há dois dias enquanto tentava apagar um incêndio durante um frustrado ataque-surpresa israelense ao convento, não foi retirado do lugar e entrou em rápida decomposição.

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