MINSK - Maria Kolesnikova, uma importante líder opositora da Bielo-Rússia, foi detida nesta segunda-feira, 7, de acordo com várias testemunhas, um dia depois da grande manifestação em Minsk contra a reeleição do presidente Alexander Lukashenko, quando ocorreram 633 detenções, a repressão mais intensa no país desde o início de agosto.
Kolesnikova é uma das poucas líderes da oposição que não partiu para o exílio no exterior. Os depoimentos obtidos pelos colaboradores de Kolesnikova indicam que ela foi levada por homens encapuzados e não identificados em um veículo.
A líder integra o "conselho de coordenação" da oposição, organismo que deseja preparar o caminho para uma transição política no país e alvo de um processo judicial. O conselho afirma que Kolesnikova foi "sequestrada". Ela não responde ao telefone. Dois integrantes de sua equipe também não respondem.
Svetlana Tikhanovskaya, outra líder opositora, refugiada na Lituânia, acusou as autoridades bielo-russas de praticar uma política de "terror". "Estão equivocadas se pensam que isto vai nos parar. Quanto mais intimidam, mais as pessoas sairão às ruas", disse.
Peter Stano, porta-voz da Comissão Europeia, denunciou como "inaceitável a repressão contínua das autoridades contra a população civil, os manifestantes pacíficos e militantes políticos".
Procurado pela AFP, o ministério do Interior bielo-russo afirmou não ter informações sobre a detenção de Kolesnikova e seus colaboradores.
Protestos aos fins de semana
No domingo 6, um protesto reuniu, pelo quarto fim de semana consecutivo, mais de 100 mil pessoas em Minsk, apesar da grande presença das forças de segurança e do exército nas ruas da capital.
"No total, 633 pessoas foram detidas ontem (domingo) por infringir a lei durante as manifestações", afirmou o ministério do Interior em um comunicado.
Este é o maior número de pessoas detidas durante uma manifestação da oposição desde o início dos protestos, após a polêmica reeleição de Lukashenko em 9 de agosto. Homens com o rosto coberto, com trajes civis e armados com cassetetes foram vistos no centro da capital perseguindo os manifestantes.
Outras manifestações aconteceram em cidades como Grodno ou Brest (oeste).
De acordo com o ministério, 363 pessoas continuam em detenção provisória e aguardam a análise de seus casos pelos tribunais.
Lukashenko, 66 anos, governa a Bielo-Rússia desde 1994. A oposição considera sua reeleição fraudulenta, mas o presidente, apoiado por Moscou, descarta qualquer tipo de diálogo.
As autoridades intensificaram as detenções na última semana durante protestos de estudantes, que declararam greve no início do ano letivo em 1 de setembro.
A repressão também tem como alvo os jornalistas bielo-russos: 20 foram detidos. Outros colaboradores de meios de comunicação estrangeiros, incluindo a AFP, perderam a credencial.
Ao menos três pessoas morreram nas manifestações e mais de 7 mil foram detidas, sobretudo nos primeiros dias após as eleições. Os detidos descreveram maus-tratos e torturas durante o período que passaram na prisão.
Nomes importantes da oposição buscaram refúgio no exterior pelo temor de detenção. Outra figura de destaque da oposição, Olga Kovalkova, anunciou no sábado 5 que viajou à Polônia depois de receber ameaças do serviço de inteligência da Bielo-Rússia.
Lukashenko, que antes da eleição criticou as tentativas de "desestabilização" de Moscou, denuncia agora um "complô" ocidental e tenta se aproximar da Rússia, seu aliado mais próximo e sócio econômico.
Os países europeus não reconheceram os resultados das eleições de 9 de agosto e preparam sanções contra importantes autoridades bielo-russas. / AFP