Líder pensou em atacar aviões no Recife em 1982

Aeronaves argentinas que buscavam armas na Líbia e faziam escala no Brasil seriam alvo da primeira-ministra

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Por JAMIL CHADE , CORRESPONDENTE e GENEBRA
Atualização:

A ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher chegou a considerar atacar aviões que usaram aeroportos brasileiros como escala para buscar armas na Líbia e abastecer os argentinos na Guerra das Malvinas. A informação faz parte dos 6 mil telegramas e documentos secretos que o governo da Grã-Bretanha tornou públicos no final de 2012, 30 anos depois da guerra.Segundo os papéis, o Aeroporto do Recife foi usado como entreposto para armas que eram enviadas da Líbia para a Argentina durante a guerra. Acusando o Brasil de não ter fibra moral e ceder diante dos argentinos, os britânicos estavam convencidos de que o uso do Recife como base de apoio aos militares argentinos era de conhecimento do mais alto escalão do governo brasileiro.Num telegrama enviado para Londres em 1.º de junho de 1982, o então embaixador britânico no Brasil, George Hardings , dá detalhes dos carregamentos de armas, alguns dos quais usavam aviões da companhia Aerolíneas Argentinas. A suspeita era de que o avião transportava mísseis Exocet e sua avaliação era de que os voos teriam recebido autorização do Ministério da Aeronáutica do Brasil. Thatcher pediu então que uma avaliação legal sobre a possibilidade de abater as aeronaves que chegavam ao Brasil. No dia 11 de junho, o procurador-geral britânico, Michael Havers, relatou à Dama de Ferro sua opinião legal sobre o impacto de interceptar a carga. "Um avião voando diretamente de Trípoli a Recife no Brasil sem parar para abastecer não poderia ser interceptado ou forçado a descer porque não teria combustível suficiente", explicou. Ele acrescentou que Londres poderia fazer um alerta à Argentina de que novos carregamentos que fizessem escala no Brasil seriam "atacados" se não aceitassem ser desviados. Já Hardings desaconselhou um ataque contra esses aviões ou contra o Brasil, alertando para as "sérias consequências políticas" que isso teria.A descoberta provocou uma reação diplomática intensa em Londres. Num telegrama de 1.º de junho, o governo britânico pediu ajuda da Casa Branca para pressionar o Brasil em relação ao auxílio dado aos argentinos. A guerra acabaria precipitando o fim da ditadura da junta militar na Argentina, um ano depois.

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