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Líder se voltou para o Oriente Médio tarde demais

Por Gustavo Chacra e Jerusalém
Atualização:

O processo de paz levado adiante por Bill Clinton fracassava, com israelenses e palestinos se digladiando com tanques e homens-bomba nas ruas de Nablus, Jerusalém e Tel-Aviv, quando George W. Bush assumiu a presidência dos EUA há oito anos. Neste período, o líder palestino Yasser Arafat morreu entrincheirado em seu quartel-general em Ramallah, Cisjordânia. Ariel Sharon virou premiê, saiu da Faixa de Gaza e hoje está em coma, enquanto Israel trava uma guerra no mesmo território. Bush, no seu primeiro discurso do Estado da União, em 27 de fevereiro de 2001, ignorou o Oriente Médio. A Al-Qaeda ainda parecia um inimigo distante que se resumiu à necessidade de os Estados Unidos enfrentarem as novas ameaças do século 21, que "vão de terroristas que nos ameaçam com bombas a tiranos de países párias que tentam desenvolver armas de destruição em massa". Na verdade, em vez de bombas, os integrantes da Al-Qaeda utilizaram aviões americanos para cometer o maior atentado terrorista de toda a história. A analogia entre os ataques suicidas em Israel e nos EUA determinou a forma como o presidente americano veria o conflito entre israelenses e palestinos. Por três anos seguidos, o então premiê de Israel, Ariel Sharon, foi o líder internacional mais vezes recebido na Casa Branca. Arafat era ignorado por Bush. Em 2002, Sharon iniciou a mais ampla ofensiva contra os palestinos na Cisjordânia, no que ficou conhecido como Operação Muro Protetor. Em entrevista coletiva na Casa Branca, quando jornais de todo o mundo relatavam a violência da ação de Israel, Bush afirmou que Sharon era um homem da "paz" e criticou Arafat por não combater o terrorismo. O presidente americano ainda sugeriu, em 23 de junho de 2002, que Arafat deveria ser removido e substituído por um líder não envolvido com o terrorismo. No ano seguinte, isolado pelos americanos e cercado por tanques israelenses em seu QG em Ramallah, o presidente da Autoridade Palestina concordou em nomear Mahmud Abbas como primeiro-ministro. Visto como moderado, o novo premiê foi convidado por Bush para lançar, com Sharon, um audacioso plano de paz chamado Mapa da Estrada, que previa uma série de etapas que culminariam na criação de um Estado palestino. Porém, nenhum dos lados cumpriu com a sua parte, e o projeto foi esquecido. Arafat morreu no fim de 2004. Abbas foi eleito para sucedê-lo em janeiro de 2005. Sharon ordenou a retirada dos assentamentos de Gaza em meados daquele ano. Em janeiro de 2006, o Hamas, visto como terrorista pelos americanos, venceu as eleições parlamentares palestinas. Sharon sofrera uma série de derrames na mesma época e nunca retomou a consciência. Ehud Olmert tornou-se premiê e comandou Israel em uma guerra contra o Hezbollah no Líbano. No meio de 2007, o Hamas derrubou o Fatah do poder na Faixa de Gaza. Bush decidiu, no fim daquele ano, organizar uma conferência de paz em Annapolis, que também resultaria em um Estado palestino antes do fim de seu mandato. Em vez disso, Bush desocupará a Casa Branca após uma guerra na Faixa de Gaza com mais de 1.300 palestinos mortos.

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