Líder terrorista palestino encontrado morto

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Por Agencia Estado
Atualização:

Abu Nidal, o militante palestino renegado cujo nome chegou a ser sinônimo de terrorismo internacional, foi encontrado morto em seu apartamento de Bagdá, informaram hoje fontes palestinas. Segundo funcionários palestinos ouvidos em Ramallah, Cisjordânia, e que pediram anonimato, o cadáver de Abu Nidal foi descoberto a três dias com vários ferimentos de bala. Segundo as primeiras informações, acredita-se que ele tenha se suicidado. Em Bagdá, o vice-embaixador palestino, Nejah Abdul-Rahman, disse não ter informação sobre o que considerou um ?boato?. O porta-voz de Nidal, Ghanem Saleh, falando do Líbano, disse ter sido informado sobre o caso pela imprensa e que não iria comentar imediatamente o assunto. Abu Nidal, que já chegou a ser considerado a principal mente por trás do terrorismo palestino, tem seu nome ligado a duas décadas de assassinatos, seqüestros, chantagens e atentados. Sem distinção, ele atacou judeus, árabes e ocidentais, eliminando alguns dos mais próximos aliados do presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, principalmente aqueles que buscavam reconciliação com Israel. Do início da década de 70 até o começo dos anos 90 - antes, porém, de Osama bin Laden ocupar o posto de terrorista número um do mundo -, Nidal, um palestino renegado, aterrorizou de Bruxelas a Bombaim com igual ferocidade e crueldade. Nidal, de 65 anos, sempre foi considerado uma figura das sombras - um mestre dos disfarces, raramente fotografado e que teria se submetido a várias cirurgias plásticas. Nos últimos tempos vivia em Bagdá, embora o governo iraquiano nunca tenha reconhecido o fato. Nidal chefiou uma organização palestina dissidente que estava entre as primeiras na lista dos grupos considerados terroristas pelos Estados Unidos. Sua organização, Fatah-Conselho Revolucionário, foi responsabilizada por ataques em 20 países, a maioria nos anos 70 e 80, com saldo de centenas de mortos e feridos. Ele foi acusado de ser o autor intelectual de ataques a tiros e granadas contra balcões de companhias aéreas de Israel e dos EUA em aeroportos de Roma e Viena, que deixaram 19 mortos e mais de 100 feridos em dezembro de 1985. Um tribunal italiano o condenou à prisão perpétua, à revelia, pelo ataque em Roma. Seu grupo foi responsabilizado por um atentado a tiros que feriu gravemente o embaixador israelense em Londres, Shlomo Argov, em junho de 1982. O ataque motivou Israel a invadir o Líbano dias depois, à caça de grupos guerrilheiros palestinos. Fontes diplomáticas árabes haviam dito há dois anos que Abu Nidal, sofrendo de um tipo não especificado de câncer, havia se mudado para Bagdá para se submeter a tratamento. O Iraque nunca comentou se o líder terrorista estaria ou não na cidade, mas há informações de que ele mantinha uma presença simbólica na capital iraquiana, com um pequeno escritório e guarda-costas. O irmão de Abu Nidal, Mohammed al-Bana, que vive na Cisjordânia, disse que soube de sua morte através da imprensa. "Eu não falava com ele há um longo tempo, 40 anos ou algo assim", disse al-Bana à rede de tevê Al-Jazira, do Catar. "Conversei com amigos e parentes em países árabes para confirmar a notícia. Eles não sabiam que Abu Nidal estava em Bagdá." Abu Nidal (que significa Pai da Luta) era o nome de guerra de Sabri al-Bana, que, como líder do Fatah-Conselho Revolucionário, rompeu com a Organização para a Libertação da Palestina (OLP) em 1974, por considerá-la muito moderada. "Nos anos 70 e 80, Abu Nidal era considerado algo como um Bin Laden, um homem do terror que deixava sua marca em tudo", disse o veterano comentarista israelense Yossi Melman, na rádio do Exército de Israel. Segundo Melman, acreditava-se que Abu Nidal trabalhara "sob ordens de muitos governos e agências de inteligência - do Iraque Síria, Líbia - e era especialmente ativo contra a OLP e os principais assessores de Arafat." "Ele até tentou assassinar Arafat", disse Melman. Abu Nidal, nascido em 1937 de pais palestinos ricos, na cidade portuária mediterrânea de Jaffa, foi expulso da Cisjordânia, com a família, durante a guerra de 1948, que acompanhou a criação de Israel. Estudou Engenharia no Cairo, mas não chegou a se formar. Alimentado pelo ódio contra Israel e contra os árabes que buscavam entendimento político com os israelenses, o grupo de Abu Nidal lançou uma sangrenta guerra de guerrilha em três continentes, com assassinatos, bombardeios e seqüestros. Um grupo que antecedeu o Fatah-Conselho Revolucionário foi acusado de matar representantes da OLP em Londres, Paris, Roma, Madri, Bruxelas e no Kuwait, e por um atentado a bomba contra um escritório da organização de Arafat em Islamabad, que matou quatro pessoas. Abu Nidal foi condenado à morte, à revelia, por uma corte militar do Fatah em 1973.

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