Liderança e disciplina ajudam sobrevivência,dizem especialistas

Luis Urzúa, de 54 anos, tornou-se porta-voz de um grupo organizado que conseguiu racionar a pouca comida que tinha

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SANTIAGO Os especialistas e as autoridades chilenas se surpreenderam com as boas condições dos mineradores presos há mais de duas semanas a 700 metros de profundidade. A razão, segundo eles, é a forma como eles se organizaram e à liderança de Luis Urzúa, de 54 anos, um chefe de turno que se tornou porta-voz do grupo. Uma prova da disciplina e da organização é o fato de eles terem racionado ordenadamente a pouca comida que tinham e de terem distribuído tarefas para dispor de luz e água. A ascendência de Urzúa será agora fundamental para se estabelecer uma rotina de alimentação e exercícios preparatórios para o resgate. Urzúa foi o responsável por conversar ontem com o ministro da Mineração, Laurence Golborne. Demonstrando bastante calma, ele disse que todos estavam bem e aguardavam o resgate "pacientemente".Outro chileno preso na mina San José é Franklin Lobos, ex-volante da seleção olímpica do Chile de futebol. Lobos jogou de 1982 a 1995 em clubes da primeira divisão do Chile e disputou o pré-olímpico para os Jogos de 1984, em Los Angeles, tendo até mesmo enfrentado o Brasil. A família do ex-jogador, que se tornou um dos símbolos da tragédia, disse ontem que pensou em lhe enviar uma bola. "Mas ela não passa pela sonda", brincou a filha, Caroline. Fuga possível. De acordo com Golborne, após o desabamento da mina, no dia 5, teria sido possível, nas primeiras 48 horas, a fuga dos mineiros se houvesse uma escada de emergência na chaminé ou no duto de ventilação principal. "Quando ocorreu o acidente, numa quinta-feira, a chaminé estava livre e era possível subir por ela até o sábado, dia 7, quando houve um outro desabamento", disse o ministro. "Se ela pudesse ser escalada, eles teriam saído." As falhas de segurança na mina San José, no norte do país, levaram o presidente do Chile, Sebastián Piñera, a anunciar, na segunda-feira, a criação de um grupo de trabalho para analisar uma mudança na atual legislação do setor. "Queremos que haja um antes e um depois desse acidente em matéria de segurança no setor minerador", afirmou o presidente. Ontem, depois de participar de um ato religioso em homenagem aos mineiros no Palácio de La Moneda, Piñera, prometeu que todos estarão em casa no Natal. Doação. Leonardo Farkas, um excêntrico empresário do ramo da mineração, entregou um cheque de US$ 10 mil às famílias de cada um dos 33 mineiros. "Quando forem resgatados, darei uma festa", avisou. "Hoje, estou doando 165 milhões de pesos (cerca de US$ 330 mil) e convocando empresários e todos os chilenos a enviar doações." As declarações de Farkas contrastam com a situação dos donos da mina, que acreditam ser difícil pagar os salários dos trabalhadores e analisam um pedido de falência. / EFE, REUTERS, AP E AFPPARA LEMBRARClássico de Hollywood retratou dramaA Montanha dos Sete Abutres (1951), de Billy Wilder, é uma das mais agudas críticas já realizadas pelo cinema ao jornalismo sensacionalista, tendo como fundo uma história parecida ao drama por que passam os mineiros chilenos. No filme, um minerador (Richard Benedict) fica preso em uma galeria após um deslizamento. Kirk Douglas interpreta o repórter Chuck Tatum, que vê no caso excelente oportunidade para realizar reportagens de grande impacto. O detalhe é que o minerador poderia ser resgatado sem maiores dificuldades, mas o repórter o mantém preso na caverna para que possa continuar a produzir a série de matérias. O passado de Tatum "explica", se o verbo cabe, sua voracidade pelo furo jornalístico. Repórter de sucesso em grandes jornais, caiu em desgraça e, sem alternativa profissional, foi parar num jornaleco de província do Novo México. Quando seu novo editor ingenuamente lhe sugere uma pauta positiva, como o aumento na colheita de cereais da região, Tatum responde com essa frase tornada clássica do anedotário das redações: "Good news is no news." / LUIZ ZANIN ORICCHIO

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