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Líderes da União Europeia fazem concessões ao governo italiano e fecham acordo migratório

Países decidem compartilhar de maneira voluntária os refugiados que chegarem ao bloco e acabam com a política de cotas que cada governo deveria receber antes

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Por Redação
Atualização:

BRUXELAS - Os líderes da União Europeia (UE) chegaram na madrugada desta sexta-feira, 29, a um acordo para responder às preocupações de países como a Itália sobre a migração, com algumas medidas, em particular a criação de centros para migrantes, de caráter voluntário.

Pressionados pelo primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, que ameaçou boicotar a declaração conjunta da reunião se não recebesse uma resposta a suas demandas, os líderes anunciaram o acordo após nove horas complexas negociações em Bruxelas. "Os 28 líderes da UE concordaram com as conclusões do Conselho Europeu, incluindo sobre imigração", tuitou o presidente da instituição, Donald Tusk.

Os líderes da União Europeia consideraram durante a reunião que seus Estados membros podem criar em seu território, de maneira voluntária, centros fechados para separar refugiados - que têm direito a permanecer nos 28, dos imigrantes econômicos, que seriam devolvidos aos seus países de origem. Foto: EFE/Stephanie Lecocq

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"A Itália já não está só", celebrou o primeiro-ministro italiano, que exigiu nos últimos anos mais solidariedade dos sócios europeus na divisão dos quase 500 mil migrantes que chegaram a suas costas desde 2015. "Este acordo reconhece que a gestão dos fluxos migratórios deve ser organizada com um enfoque integrado, como havíamos pedido, no plano interno e externo, e com um controle de fronteiras", disse Conte.

Os 28 países concordaram em compartilhar de maneira voluntária os refugiados que chegarem ao bloco e criar "centros controlados" dentro da UE para processar solicitações de asilo. 

Nos centros, ocorrerá uma triagem entre refugiados e imigrantes econômicos - que serão devolvidos aos seus países de origem. Os refugiados serão então enviados a países da UE que se voluntariem para recebê-los, acabando com as cotas obrigatórias e atendendo ao pedido dos países do leste do continente que se negam a abrigar mais refugiados, como Itália e Hungria.

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O premiê polonês, Mateusz Morawiecki, cujo país se negou a acolher os refugiados no plano de divisão adotado entre 2015 e 2017, celebrou o "ótimo compromisso". "Há declarações sobre recolocações de caráter voluntário baseadas no consenso".

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, que compareceu a sua primeira reunião europeia, considerou que "não é o melhor dos acordos", mas apontou a realidade diferente de cada país. 

O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou, horas após a reunião, que seu país não terá nenhum centro para migrantes que desembarcarem na Europa. "A França não é um país na primeira linha das chegadas. Levando em conta sua situação, a França não abrirá centros desse tipo."

Para o líder francês, estes centros devem ser instalados nos países de primeira linha das chegadas, ou seja, Itália, Grécia e Espanha. 

Mais medidas.

Entre as propostas, três anos após a maior crise de refugiados desde a 2.ª Guerra e em um contexto de redução drástica das chegadas de migrantes, está a proteção maior das fronteiras e a cooperação com os países de origem e trânsito, sobretudo na África.

Os governantes europeus exigem que as instituições comunitárias "explorem rapidamente o conceito de plataformas regionais de desembarque", em cooperação com terceiros países, a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

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Estas plataformas situadas fora da UE, para onde seriam levados os barcos ajudados no mar como uma medida para impedir as perigosas travessias do Mediterrâneo, também teriam a responsabilidade de diferenciar os migrantes, "respeitando plenamente o direito internacional".

Este tipo de plataforma, que poderia ser instalada no norte da África, representaria uma resposta a crises como as do "Aquarius" e "Lifeline", barcos com migrantes a bordo que atracaram em outros países depois que a Itália impediu sua entrada. 

Na quinta-feira 28, o Marrocos rejeitou receber as plataformas. Para esses locais seriam levados os migrantes resgatados em águas que não são de domínio europeu.

A reunião do bloco deveria, a princípio, alcançar um "consenso" sobre a nova política de asilo conhecida como Regra de Dublin, objeto de uma tentativa de reforma há mais de dois anos. Esta legislação estabelece que o primeiro país europeu em que um migrante pisa é o responsável por administrar o pedido de proteção internacional, algo insustentável para os países mediterrâneos que exigem a solidariedade dos sócio.

Dirigentes como o presidente da Eurocâmara, Antonio Tajani, ou a chanceler alemã, Angela Merkel, haviam advertido que a UE jogava seu futuro, ou pelo menos o de seu espaço de livre circulação, caso os países não alcançassem um acordo sobre a política migratória. 

Luta interna.

Merkel também enfrenta o futuro de seu governo de coalizão desde que seu ministro do Interior ameaçou impedir de maneira unilateral a entrada de demandantes de asilo procedentes de outros países da UE na Alemanha, principal destino dos refugiados que chegaram às costas europeias nos últimos anos. 

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Nesta sexta-feira, Merkel conseguiu fechar acordos bilaterais com Espanha e Grécia, que vão receber parte dos migrantes que chegaram à Alemanha. Assim, a situação da chanceler deve ser fortalecer internamente. 

Merkel se declarou otimista ao fim da reunião, mas admitiu que há muito trabalho a fazer para aproximar os diferentes pontos de vista. / AFP

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