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Líderes do Khmer Vermelho vão a julgamento no Camboja; saiba mais

Acusado pela morte de 2 mi, grupo que governou o país entre 1975 e 1979 aboliu religião e escolas

Por BBC Brasil
Atualização:

Integrantes do Khmer Vermelho no julgamento: Khieu Samphan, Ieng Sary, Ieng Thirith e Nuon Chea

 

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PHNOM PENH - Começou nesta segunda-feira, 27, no Camboja, o julgamento de quatro importantes integrantes do Khmer Vermelho, grupo que governou o país durante quatro anos e é responsabilizado pela morte de quase dois milhões de pessoas. Nuon Chea, Khieu Samphan, Ieng Sary e Ieng Thirith são acusados de genocídio e crimes contra a humanidade ocorridos entre 1975 e 1979.Sob o comando de seu líder, Pol Pot, o Khmer Vermelho forçou milhões de habitantes das cidades a trabalhar em fazendas comunitárias no interior. O experimento social teve um custo alto, provocando a morte de famílias inteiras, vítimas de execuções, fome, doenças e exaustão, em um dos capítulos mais sangrentos da história do século 20. Filosofia 'comunista'

 

O Khmer Vermelho tem suas origens na década de 1960, como um braço armado do Partido Comunista de Kampuchea (como os comunistas chamavam o Camboja). Com presença em regiões remotas de selva e em montanhas no nordeste do país, o grupo teve pouco impacto inicialmente.

 

Ele passou a atrair mais apoio em 1970, quando formou uma coalizão com o chefe de Estado Norodom Sihanouk, deposto por um golpe militar de direita. Em uma guerra civil que durou cinco anos, a coalizão aumentou o seu controle sobre o interior do país. Em 1975, o Khmer Vermelho finalmente assumiu o controle da capital do país, Phnom Penh, e da nação. Durante o período em que viveu no nordeste do país, Pol Pot havia sido influenciado pelas tribos que habitavam as montanhas vizinhas. Autossuficientes, as tribos viviam de forma comunitária, não usavam dinheiro e não tinham sido influenciadas pelo budismo. Quando chegaram ao poder, Pol Pot e seus homens passaram rapidamente a implementar seu plano de transformar o Camboja - agora rebatizado como Kampuchea - em uma "utopia agrária".

 

'Intelectuais' executados

 

Após determinar que o país deveria começar de novo do "ano zero", o Khmer Vermelho isolou o Camboja do resto do mundo, começou a esvaziar as cidades, aboliu o dinheiro, a propriedade privada e a religião, e criou coletivos rurais.

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Qualquer pessoa tida como "intelectual" era executada. Os que usavam óculos ou falavam um idioma estrangeiro eram frequentemente condenados. Milhares de integrantes da classe média educada foram torturados e executados em centros especiais. O mais notório desses centros foi a prisão S-21 em Phnom Penh, Tuol Sieng, onde cerca de 17 mil homens, mulheres e crianças foram aprisionados durante os quatro anos em que o grupo esteve no poder. Outros milhares morreram de doenças, fome e exaustão, forçados a trabalhar por membros do Khmer Rouge. Abertura Em 1979, após violentos confrontos nas fronteiras do Camboja, o governo do Khmer Vermelho foi finalmente deposto por tropas vietnamitas. Membros do alto escalão do partido fugiram para regiões remotas. Eles permaneceram ativos durante um período mas foram, gradualmente, perdendo o poder.

 

Nos anos seguintes, à medida que o país reabria suas portas à comunidade internacional, os horrores cometidos pelo grupo começaram a emergir. Sobreviventes contaram suas histórias a plateias chocadas. Em 1980, a produção de Hollywood Killing Fields - Os Gritos do Silêncio levou ao mundo o drama vivido pelas vítimas do Khmer Vermelho. Em um julgamento realizado em 1997, Pol Pot foi denunciado por seus ex-aliados e condenado à prisão domiciliar em sua casa na selva. Menos de um ano depois, no entanto, ele morreu, negando a milhões de pessoas afetadas por seu governo brutal a possibilidade de justiça.

 

Entre os quatro líderes sob julgamento no tribunal cambojano está o "número dois" do governo de Pol Pot, Nuon Chea. Os acusados negam todas as acusações, e o julgamento, que tem o apoio da ONU, deve durar anos. No ano passado, outro membro do grupo, Kaing Guek Eav, conhecido como Camarada Duch, foi condenado a 35 anos de prisão.

 

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